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Brasil começa a ganhar espaço na exportação de serviços de TI

Apesar do crescimento, País ainda está longe da meta traçada pelo governo

Por Renato Cruz
Atualização:

Há três anos, a revista americana Wired publicou em sua capa a foto de uma indiana, com a chamada "Dê adeus a seu cubículo", um alerta ao trabalhador dos Estados Unidos. A reportagem sobre offshoring (transferência de serviços para o exterior) tinha como destaque a Índia e trazia uma lista dos dez principais países que vendiam serviços de tecnologia da informação. O Brasil nem aparecia nela. A situação, no entanto, começou a mudar. A consultoria AT Kearney publicou um relatório este ano com os dez países com melhores condições para a exportação de serviços de tecnologia e o Brasil ficou em quinto lugar. No relatório anterior, de 2005, o País era décimo. "O Brasil tem competência em software há 45 anos", diz Antonio Carlos do Rego Gil, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom). "Temos as condições adequadas, mas ainda falta um elemento: a gente precisa mobilizar a vontade política do Brasil." Ele propõe que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abrace a causa da exportação de software e serviços de TI da mesma forma que fez com os biocombustíveis. O software foi definido como uma das quatro prioridades da política industrial no começo do governo Lula, quando foi traçada uma meta de US$ 2 bilhões em exportação para este ano. Mas, apesar de o mercado ter crescido bastante, ainda está longe do objetivo. Gil prevê que as vendas de software e serviços de tecnologia para o exterior vão alcançar US$ 800 milhões este ano, menos da metade da meta. Um estudo do BNDES, divulgado também no início do governo Lula, mostrava que um dos problemas do setor era a falta de porte das empresas brasileiras frente às multinacionais. Depois disso, empresas como Totvs, Datasul e CPM Braxis partiram para um movimento de consolidação. A Stefanini planeja abrir o capital em março e usar os recursos para comprar companhias no Brasil e no exterior. A empresa espera faturar R$ 390 milhões este ano, um crescimento de 25% sobre 2006. Com presença em 13 países, além do Brasil, 20% das receitas da Stefanini vêm do exterior. "Estamos estabelecidos nos principais mercados globais", afirmou Marco Stefanini, presidente e fundador da companhia. "Em cinco anos, metade da receita virá das exportações." Multinacionais como as americanas IBM, Accenture e EDS e a indiana Tata exportam serviços de TI a partir do Brasil. Fabricantes como a HP e a Dell desenvolvem aqui software adotado nas suas linhas mundiais de produtos. Mesmo grupos de outros setores, como a Rhodia, decidiram instalar no País centros de tecnologia para atender o mundo todo. As empresas brasileiras de software investiram em certificação, uma exigência do mercado internacional, e em qualificação de mão-de-obra. Mas o esforço não foi suficiente para atingir a meta. "O principal problema hoje são os encargos fiscais e trabalhistas", diz Gil. "Em salário, o trabalhador brasileiro é competitivo. Com os encargos, ele deixa de ser." O segundo maior obstáculo é a formação de mão-de-obra. "Principalmente na língua inglesa", diz. Para cada US$ 1 milhão adicionais de exportação, são precisos cerca de 20 novos profissionais. O Brasil tinha como meta chegar a US$ 5 bilhões em vendas externas em 2010, mas o setor já reconhece que vai demorar pelo menos um ano a mais para chegar a essa marca.

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