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Brasil começa a se mostrar um país sério, diz Economist

Por Nathália Ferreira
Atualização:

"Já é amanhã no Brasil", pontua o editor da seção das Américas da revista inglesa The Economist, Michael Reid, em artigo que mostra que o Brasil começa a se comportar como um país sério. Publicado na edição de hoje do jornal espanhol El Pais, o artigo destaca que o progresso do País nos últimos 15 anos se baseou em consensos democráticos, investimentos privados e controle da inflação. Segundo Reid, o Brasil "começa a ser levado a sério como uma nova potência econômica e política". No início do artigo, Reid lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma conferência da Economist em Brasília há alguns meses, afirmou que sua fórmula política consistia em ser "conservador na economia" e "audaz na política social". Para o editor, "é uma fórmula que está dando seus frutos". Em 2003, quando economistas do banco de investimento Goldman Sachs colocaram o Brasil ao lado da Rússia, Índia e China para compor o bloco econômico dos principais países emergentes, o chamado BRIC, sinalizando que esses países dominariam a economia mundial por volta de 2030, muitos criticaram que a economia brasileira não poderia integrar esse grupo, lembra Reid. Mas o editor destaca que o crescimento econômico foi de 5,4% no ano passado, a moeda e as contas públicas se fortaleceram e o investimento externo alcança níveis sem precedentes. Além disso, duas agências de classificação de risco já consideram o País como "grau de investimento" - a Standard & Poor''s e a Fitch. "Ao contrário de China e Rússia, o Brasil continua com uma democracia flutuante, ainda que caótica, enquanto sua renda por habitante é sete vezes maior que a da Índia. Na atualidade, muitos estrangeiros vêem no País o líder da América Latina, que mereceria estar presente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e no G-8 (o grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia)", diz o artigo. Em outra comparação, Reid aponta que "o crescimento brasileiro, ao contrário do venezuelano, baseia-se mais no investimento privado do que no gasto público". "Diferentemente da Argentina, o Brasil não está permitindo que a inflação ponha em risco a estabilidade econômica." Segundo o editor, o progresso brasileiro teria começado na década de 1990, com a abertura da economia e o Plano Real, que "dominou finalmente a inflação". Reid destaca que, surpreendendo alguns, Lula deu continuidade aos êxitos do governo de Fernando Henrique Cardoso e concedeu independência ao Banco Central, sem intervir nos aumentos da taxa básica de juros para conter a escalada inflacionária de 2003. "Tampouco é provável que o faça agora, quando o Banco volta a subir os juros para controlar uma nova investida da inflação, originada pelo aumento mundial nos preços de alimentos e combustível", diz o artigo. Em seus dois últimos encontros, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou o juro básico brasileiro em 0,50 ponto porcentual cada, para os atuais 12,25% ao ano. O artigo ressalta ainda que o País está se beneficiando da alta dos preços das matérias-primas (commodities), especialmente do ferro e da soja, e cita também a possibilidade de o Brasil se tornar uma superpotência energética, graças ao etanol de cana-de-açúcar, que seria outro fator para o crescimento econômico. Problemas Mas Reid lembra que ainda há problemas, com destaque para a violência, a lentidão e ineficácia do sistema judiciário, a legislação trabalhista e a carga fiscal - que representa 36% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no País). O artigo critica também a política externa do Brasil. De acordo com o texto, apesar de ter se tornado uma grande potência diplomática comercial, o País divide com os Estados Unidos o fracasso das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). De qualquer forma, "com seus múltiplos defeitos, em muitos sentidos, o Brasil está começando a comportar-se como um país sério", finaliza Reid.

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