O Brasil não considera aceitável qualquer acordo em Bali que não inclua as três áreas que estão sendo negociadas - facilitação do comércio, agricultura e desenvolvimento comercial para os países mais pobres -, e é com esse espírito que o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, chega neste final de semana à Indonésia para a reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC)."Não acho viável fechar apenas uma frente. Queremos os três. Não é o resultado ideal sair só com uma das áreas do pacote de Bali", afirmou ontem antes de viajar. "Nós coordenamos o grupo do G-20, dos países em desenvolvimento, que vê as coisas de forma muito parecida."Não seria aceitável para os países em desenvolvimento como um todo um resultado que seja apenas um lado. O atual estado das coisas, no entanto, não dá margem a que se pense nem mesmo em uma área a ser fechada. Depois de 150 horas em negociações extensas, na última terça-feira, o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, admitiu: as negociações chegaram a um impasse e, em Genebra, na sede da organização, os negociadores foram incapazes de cruzar a linha final. A avaliação de Azevêdo é que será quase impossível fechar os textos nas três áreas numa negociação entre mais de 100 ministros. As áreas "com colchetes" - aquelas em que a negociação não está fechada - são "muitas e de natureza muito técnica". Esforço. Apesar da avaliação de Azevêdo e de reconhecer os impasses, o ministro brasileiro se diz "cautelosamente otimista". "A situação não está boa. Mas, se for feito um esforço político verdadeiro, é possível obter resultados", disse. A reunião de Bali vem sendo tratada como o recomeço ou a pá de cal na Rodada Doha de liberalização do comércio. Iniciada em 2001 e praticamente abandonada desde 2011, a rodada empacou em entraves infinitos sobre ceder mais ou menos e trocas de acusações múltiplas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.O pacote de Bali, que negocia a padronização de normas aduaneiras e a facilitação de exportações dos países mais pobres - entre outras dezenas de detalhes -, não pretende ser o que Doha não foi. Mas, se tiver sucesso, vai mostrar que é possível voltar à mesa de negociação em temas mais amplos. "Fechar esse pacote seria a primeira grande conquista da OMC em muitos anos. É um progresso enorme. Não conseguir é a manutenção de uma situação que ninguém quer", avaliou Figueiredo. Chegou-se tão perto, no entanto, que já há quem diga que as tentativas não se esgotam em Bali, entre 3 e 6 de dezembro. Figueiredo garante não trabalhar com plano B, mas já há quem fale em continuar as negociações após Bali para tentar fechá-las no primeiro trimestre de 2014, em Genebra. "Eu nunca falo em plano B em negociações, mas tem-se falado. Porque as negociações estão indo bem, então ninguém quer matar tudo aquilo por causa de uma data", disse. "É um sinal de que há engajamento."