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Brasil desenvolvimentista

Por Ernesto Lozardo
Atualização:

O Brasil desfruta de uma fase otimista de crescimento econômico.Aos trancos e barrancos, nos últimos anos, a política econômica tem semeado o nascer do capitalismo competitivo brasileiro num Estado democrático. É descabido comparar o papel do Estado desenvolvimentista atual com o dos anos 80. O Estado assumiu o papel de assegurar a estabilidade dos preços, da atividade econômica e do sistema financeiro nacional; acumular e distribuir a renda social; manter a ordem institucional dos agentes públicos e privados e a constância do poder de compra da moeda. Essas conquistas em nada se assemelham às políticas econômicas anteriores ao Plano Real.As políticas econômicas de Fernando Henrique Cardoso e de Lula foram distintas, porém complementares. A de FHC, por meio de inúmeras reformas - monetária, fiscal, cambial e patrimonial -, deu origem a um Brasil emergente que o capacitou a compor a sigla Brics, e a de Lula promoveu o crescimento com distribuição da renda, reduziu a pobreza e manteve a paz social.À presidente Dilma cabe a missão de transformar o Brasil numa nação global líder, mais próspera e democraticamente madura.Pode-se, às vezes, comparar os avanços e atrasos de um país com os de outro, para facilitar a compreensão de determinado aspecto da análise. Ao Brasil atual não cabe comparar-se com a Coreia do Sul, pois isso seria chorar sobre o leite derramado: o correto é relacionar o Brasil a um dos membros do Brics, a Índia.O Estado indiano exerce papel similar ao do Brasil descrito acima. Politicamente, trata-se de uma democracia, mas, socialmente, no país asiático há muito mais miseráveis, elevadíssimo índice de mortalidade infantil e muitos analfabetos absolutos. Economicamente, porém, há indicadores mais fortes e mais promissores que os do Brasil.A composição da produção brasileira assemelha-se à da Índia. Os setores agrícola, industrial e de serviços, em porcentagem da produção total, estão distribuídos de forma muito similar: agricultura em 6% do Produto Interno Bruto (PIB); indústria, 27% do PIB; e serviços, 69% do PIB. Há, no entanto, uma diferença: enquanto o setor industrial indiano se mantém em torno de 27% do PIB, o porcentual brasileiro é cadente, passou de 28% para 26%. A base de sustentação da expansão do setor de serviços, bem como a eficiência produtiva do setor agrícola dependem da capacidade de competitividade do setor industrial.No Brasil, o setor industrial está perdendo dinamismo comercial por falta de uma política industrial inovadora, apoiada em política tributária globalmente competitiva, como ocorre na Índia.A modernidade de um país se mede pela sua competitividade global. A Índia, até meados dos anos 2000, apresentou nível de abertura comercial semelhante ao brasileiro, em torno de 26% do PIB, e atualmente esse porcentual indiano saltou para 50% do PIB. A economia brasileira continua pouco competitiva e fechada.A base de sustentabilidade do crescimento econômico é maior na Índia. No Brasil, o nível de poupança e investimentos, em porcentagem do PIB, se mantém estacionado em 18% há décadas. Isso limita a possibilidade de o Brasil crescer acima de 4,5% ao ano. A Índia tem uma taxa de poupança e investimentos em torno de 34% do PIB, o que possibilitou que aquele país triplicasse sua economia nos últimos 15 anos. A brasileira nem sequer dobrou no mesmo período. Portanto, a economia brasileira foi a que menos cresceu entre os Brics.O principal desafio da política econômica brasileira no governo Dilma será o de criar condições para dobrar o nível de poupança e de investimentos, como faz a Índia, que investirá US$ 1 trilhão em infraestrutura nos próximos cinco anos.PROFESSOR DE ECONOMIA DA EAESP-FGV, É AUTOR DO LIVRO "GLOBALIZAÇÃO: A CERTEZA IMPREVISÍVEL DAS NAÇÕES"

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