Brasil desperdiça oportunidade no e-commerce da China e até açaí é vendido por empresa da Bélgica

Estudo do Conselho Empresarial Brasil-China mostra que empresas estrangeiras usam a marca do Brasil para oferecer produtos no e-commerce chinês, um mercado que movimenta US$ 2,3 trilhões e tem potencial de ser explorado por companhias brasileiras

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Por Filipe Serrano
3 min de leitura

Sem realizar investimentos para tornar suas marcas mais conhecidas na China, o Brasil tem desperdiçado a chance de aumentar as exportações para o país asiático ao explorar de forma tímida o comércio eletrônico chinês. As vendas online representam cerca de 25% do varejo no país, e movimentam US$ 2,3 trilhões ao ano. Apesar de o mercado chinês ser vasto, as marcas e produtos brasileiros ainda têm uma presença fraca no ambiente digital do país. 

Essa é a principal constatação do relatório “As Oportunidades e os Desafios para Empresas Brasileiras no Maior Mercado de E-commerce do Mundo publicado nesta quarta-feira, 26, pelo Conselho Empresarial Brasil-China

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O estudo, coordenado pela pesquisadora Renata Thiébaut, identificou cerca de 10 mil produtos que utilizam o termo “Brasil” nas principais plataformas de comércio eletrônico na China (Taobao, Tmall e Tmall Global, da empresa de internet Alibaba). Segundo o levantamento, esses produtos movimentam mais de 2 milhões de unidades ao mês, somando o equivalente a R$ 43,7 milhões em vendas. Entre eles, estão produtos como pedras preciosas, castanhas e nozes, café, madeira, sapatos, ração e até animais de estimação, como tartarugas. 

Consumidores em Hong Kong. Exportações do Brasil para a China saíram de US$ 2 bi, em 2001, para US$ 87,7 bino ano passado. Foto: Jerome Favre/EFE - 26/1/2022

O relatório aponta, no entanto, que esses produtos são vendidos na maioria das vezes por empresas estrangeiras. O açaí em pó é vendido por uma empresa da Bélgica. O “pinhão-brasileiro” é vendido por companhias dos Estados Unidos e da China. O grão de café é importado e vendido por marcas chinesas. 

“Como marcas de outros países acabam vendendo produtos com ingredientes típicos do Brasil, elas acabam se beneficiando não só monetariamente, mas também sendo reconhecidas com produtos com esses ingredientes através de um melhor estabelecimento da marca no mercado chinês”, diz a pesquisadora e consultora Renata Thiébaut, especializada no varejo chinês. “As marcas brasileiras teriam a vantagem de se estabelecerem com ingredientes e produtos de seu país criando uma narrativa que faça mais sentido para o consumidor chinês, pois hoje, na China, o conteúdo é muito importante na promoção de uma marca.”

Diversificação das exportações

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As exportações do Brasil para a China saíram de US$ 2 bilhões, em 2001, para US$ 87,7 bilhões no ano passado, de acordo com dados do Ministério da Economia, e a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil ao longo dos últimos 20 anos. No entanto, a maior parte desse valor (US$ 69,7 bilhões) é concentrada em apenas três produtos: minério de ferro (US$ 28,3 bilhões), soja (US$ 27,2 bilhões) e petróleo (US$ 14,2 bilhões). 

A aposta no e-commerce, portanto, seria uma das medidas possíveis para aumentar a diversidade de produtos brasileiros exportados para a China e também uma maneira de vender mais bens manufaturados para o país asiático. 

O estudo identifica três áreas de maior potencial para as empresas brasileiras: alimentos e bebidas (em especial os orgânicos e a base de plantas, que promovem um estilo de vida mais saudável), produtos de beleza e moda. De acordo com o estudo, esses são segmentos de consumo já bastante explorados por empresas no mercado brasileiro. Por isso, podem usar a experiência e a competitividade para ganhar espaço também na China, explorando o fato de serem marcas brasileiras. 

Alguns exemplos óbvios são o café, a carne e o açaí, mas o estudo também identifica oportunidades para fabricantes de outros bens, como produtos lácteos, sucos, vinhos, biscoitos, doces e salgados, além de marcas de roupas e acessórios e de linhas de beleza. 

“O consumidor chinês, principalmente a geração Z, está à procura de produtos nicho, o que é uma excelente notícia para marcas especializadas e marcas menores. O consumidor tem um maior conhecimento sobre os benefícios de certos ingredientes principalmente em relação a produtos de beleza e suplementos para a saúde”, diz Renata Thiébaut. 

Entretanto, a pesquisadora aponta que, antes de explorar o mercado chinês, é preciso entender o funcionamento das plataformas online do país, implementar uma estratégia de vendas e conhecer a fundo as tendências de consumo no país. 

“O primeiro passo é trabalhar a elaboração da estratégia de entrada no mercado chinês para a definição do melhor modelo de negócios, em qual o marketplace vender os produtos, quais produtos vender, e vários outros tópicos que desenvolvemos antes de uma marca vir para China”, afirma.