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Brasil deve encolher 4,4% este ano e culpa não é da Lava Jato, diz Persio Arida

Para ex-presidente do Banco Central, a crise pela qual o País passa é decorrente de um ciclo de política econômica populista

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
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O economista Persio Arida, ex-presidente do Banco Central Foto: Nilton Fukuda/Estadão

CHICAGO - O ex-presidente do Banco Central (BC) e atual presidente do BTG Pactual, Persio Arida, afirmou hoje, em palestra na Universidade de Chicago, que o Brasil está enfrentando um encolhimento da economia sem precedentes e que a Operação Lava Jato não pode ser responsabilizada como causa da recessão, nem o cenário externo, marcado pela retração dos preços das commodities. Arida começou sua apresentação para um auditório com 300 pessoas, entre elas a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade), destacando que a economia brasileira pode encolher 4,4% este ano e que a sequência de quedas do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é algo inédito na história do País. O economista afirmou que não concorda com algumas explicações que tem ouvido sobre a piora do Brasil. Analistas dizem que é culpa do cenário externo, pois todos os emergentes estão em desaceleração e crescendo menos que no passado. Outros ressaltam ainda que foi a Operação Lava Jato que fez a economia piorar. Sobre o cenário externo, Arida disse que outros países emergentes, como o México, continuam crescendo, mesmo que em menor ritmo, mas com taxas positivas. "Quase todos os países emergentes estão crescendo menos que antes, mas isso não explica o problema do Brasil". No Brasil, as exportações também tiveram desaceleração nos últimos anos, mas o peso das vendas externas na economia é menor que em outros mercados, como Chile e Colômbia. Sobre a explicação da Lava Jato, que afetou investimentos e a confiança de empresários, Arida afirmou que os problemas gerados pela operação são da Petrobrás, que ficou dois anos com preços dos combustíveis congelados, fez uma série de projetos errados e ainda se endividou em dólar. "É completamente equivocado", disse Arida falando das explicações que tentam relacionar a Lava Jato à crise brasileira. "Combater corrupção só melhora eficiência econômica: É errado culpar a Lava Jato pelo que está acontecendo", disse ele. "O que está acontecendo é particularmente trágico, estamos em uma recessão. O investimento está caindo 15%. O País não é capaz de repor seu estoque de capital", disse Arida. "Tem algo específico na crise brasileira, muito forte", complementou o economista, em evento organizado pela Associação de Estudantes Brasileiros no Exterior (Brasa, na sigla em inglês). Para Arida, a crise brasileira é fruto de um ciclo de política econômica populista, em que se expande o gasto do governo sem a preocupação com fontes de financiamento, além de juros baixos e congelamento de preços de energia elétrica e combustíveis. Por isso, a trajetória da dívida pública é de crescimento. Na sua apresentação, Arida falou da necessidade de reforma da Previdência, do sistema tributário e defendeu o fim do FGTS. Ele também criticou a estratégia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de emprestar com taxas subsidiadas a determinados setores. "Tem que tratar os setores da economia de forma igualitária." Arida também presidiu o BNDES no início da década de 1990. 

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