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Brasil é alívio para a crise mundial da GM

Por Agencia Estado
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Os problemas se acumulam para a americana General Motors, a maior montadora de automóveis do mundo. A companhia espera registrar prejuízo de US$ 1,50 por ação no primeiro trimestre do ano, por causa principalmente do fraco desempenho das vendas na América do Norte. Além disso, reduziu suas estimativas de lucro no ano para um máximo US$ 2 por ação, ante uma estimativa prévia de US$ 4 a US$ 5. Um dos seus maiores gastos este ano serão os US$ 2 bilhões que pagará à Fiat pelo fim do acordo de fusão na área de automóveis, feito em 2000. A empresa também admitiu que a estratégia de lucratividade do presidente Rick Wagoner precisa de mudanças urgentes. Por enquanto, ele garante ter o apoio do conselho. As más notícias fizeram as ações da empresa derreterem na Bolsa de Nova York, contaminando também as de outras companhias do setor, como a Ford. A sustentação da lucratividade da GM está em risco por causa, principalmente, da atuação no mercado americano. Jogando em casa, ela tem perdido terreno para as montadoras asiáticas, principalmente Toyota e Honda. A GM continua sendo a líder no mercado americano em volume de vendas, mas teve queda de 1,4% no número de automóveis e comerciais leves negociados em 2004. Aliás, o mercado americano, que sempre foi competitivo, está ainda mais desafiante: as vendas cresceram apenas 1% em 2004, para 16,9 milhões de veículos. O mercado é considerado saturado e os consumidores estão menos sensíveis a promoções, tanto que a decisão da GM de cortar preços não surtiu grande efeito. Especialistas apontam que um dos principais problemas da GM é seu gigantismo, o que torna a gestão mais burocrática e a tomada de decisões mais lenta. A empresa tem um quadro de funcionários grande, que Wagoner tem evitado diminuir muito. Suas obrigações com fundos de aposentadoria também são altas. Além disso, a GM e seus pares ainda lutam para alcançar o sistema de logística enxuto da Toyota (inventado pela própria, diga-se de passagem), que prega a produção com menor custo e o menor índice de erros possível. Afora isso, a GM demorou a apostar em novas tecnologias, como a de veículos híbridos (com motor elétrico), que estão fazendo sucesso nos EUA. Uma das poucas boas notícias para Wagoner ultimamente tem sido o Brasil. O mercado nacional de automóveis em 2004 consagrou a General Motors na posição de líder pela primeira vez na história. O Corsa e o Celta são, respectivamente, o terceiro e o quarto modelos mais vendidos no País. O canadense de origem chinesa Ray Young, atual presidente da companhia no Brasil, conseguiu diminuir os prejuízos da montadora e espera lucro este ano, revertendo oito anos seguidos de perdas financeiras no País. A GM saiu-se bem ao ser uma das primeiras a apostar na tecnologia com motor flexível, atualmente a coqueluche do mercado nacional. A tecnologia foi uma poderosa ferramenta de marketing da companhia. Quando ela lançou o Astra multicombustível (com motor que aceita GNV, gasolina ou álcool), teve o próprio presidente da República, Lula, como garoto-propaganda. E o jovial Young conseguiu ofuscar o brilho das concorrentes no Salão do Automóvel de São Paulo, a maior vitrine do setor na América do Sul, quando dançou um rock, sozinho. Nos primeiros meses de 2005, a GM perdeu um pouco do terreno para a Volkswagen e a Fiat, mas espera reverter o processo com lançamentos dos modelos populares com tecnologia bicombustível. Certamente, as soluções de longo prazo passam pelo lançamento de produtos que caiam no gosto do consumidor, nem que, para isso, tenha de investir em tecnologias inusitadas, como no caso brasileiro.

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