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Brasil e Argentina acertam ''troca'' de moeda

Operação equivalente a US$ 1,5 bi vai financiar comércio bilateral e engordar reservas argentinas

Por Denise Chrispim Marin e Ariel Palacios
Atualização:

O governo brasileiro vai assumir o compromisso de injetar o equivalente a US$ 1,5 bilhão no Banco Central argentino, por meio de um mecanismo de swap de moedas. Os recursos serão aplicados no financiamento do comércio bilateral e também servirão como garantia para as reservas internacionais do país vizinho. Segundo declarou à imprensa argentina o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o valor do swap poderia ser elevado para US$ 5 bilhões. Esse primeiro contrato de swap de moedas do Brasil com um parceiro sul-americano será assinado na quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e Carlos Fernández, ministro da Economia da Argentina, em Buenos Aires. Em princípio, a Fazenda e o Itamaraty esperavam, como contrapartida a esse aporte financeiro, a eliminação de barreiras comerciais aplicadas pelo governo argentino sobre as importações de produtos brasileiros. Mas essa expectativa caiu por terra com o anúncio de novas travas ao comércio bilateral ditadas pelo governo de Cristina Kirchner. Entre as medidas está a adoção de um sistema de equilíbrio das trocas - "um por um" - de calçados, brinquedos e eletrodomésticos. O mecanismo de swap de moedas Brasil-Argentina seguirá os mesmos termos do contrato firmado entre o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) e o governo brasileiro, no ano passado. Aquela operação garantiu ao Brasil o acesso a US$ 30 bilhões. Mas o governo optou, até o momento, por não solicitar desembolsos desse caixa, que continua a sua disposição. Para a Argentina, o Banco Central brasileiro vai ofertar o equivalente, em reais, a US$ 1,5 bilhão. Algo próximo a R$ 3 bilhões. O montante será restituído ao Brasil em pesos e, se for aplicado pelo BC argentino no financiamento de exportações e na rolagem da dívida das empresas locais, com a mesma remuneração cobrada dos beneficiários finais. A rigor, trata-se de empréstimo de país a país a custo zero. Esse modelo havia sido oferecido em meados de fevereiro deste ano pelo governo brasileiro à Argentina, como meio de convencer Buenos Aires a derrubar barreiras à importação de produtos Made in Brazil. O governo de Cristina Kirchner não aceitou a oferta e, no início de março, assinou acordo equivalente com a China, que envolveu a injeção de 70 bilhões de yuans (cerca de US$ 10 bilhões) para financiar a importação de produtos chineses. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiu, em encontro com Cristina Kirchner em 23 de abril passado, para que o governo argentino aceitasse a oferta brasileira. Na prática, a Argentina se tornará, o primeiro país beneficiado por esse swap de moedas, que o Brasil pretende estender para toda a América do Sul. O Uruguai já aceitou a oferta e negocia o contrato. O Ministério da Fazenda estima que essa rede possa alcançar o equivalente a US$ 10 bilhões em todo o continente. A iniciativa tem o objetivo de evitar que a escassez de linhas de financiamento venha a travar o comércio do Brasil com a vizinhança e também de servir como uma pequena garantia para as reservas internacionais dos países da região.

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