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Brasil e Argentina adiam solução para pagamentos

Expectativa é de que problemas somente se resolvam com o fim dos processos eleitorais nos dois países, no fim do ano que vem

Por Iuri Dantas e Lisandra Paraguassu
Atualização:

BRASÍLIA - Diante das turbulências eleitorais nos dois países, os governos de Brasil e Argentina vêm postergando uma solução para o não pagamento de exportações brasileiras pelo principal parceiro comercial do Mercosul. O quadro é agravado pela escassez de dólares no país vizinho, que também impede a remessa de lucros e dividendos de filiais para suas matrizes brasileiras. Em lugar de empenho, há apatia em ambos os lados para discutir os problemas, segundo fontes ouvidas pelo Estado. "Não temos, infelizmente, nenhum tipo de perspectiva além de esperar 100 dias para mudar o governo aqui e 500 dias para mudar o governo lá", resumiu Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina. Ele reclama da falta de solução em encontros com viés "ideológico e idealista". Depois de uma viagem recente a Buenos Aires, o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do governo Lula, também não vê soluções no curto prazo. "Minha impressão é de que não vai ter grandes mudanças no cenário até o fim do ano que vem." Os empresários brasileiros se queixam em Brasília por causa de dois temas principais, segundo apurou a reportagem. Sobre as negativas do governo argentino em autorizar importações que não sejam de petróleo, gás e medicamentos e também a respeito da dificuldade em repatriar dividendos das filiais que as empresas brasileiras mantêm em solo vizinho. No cenário atual, muitas empresas brasileiras têm optado por investir em estoques ou adquirir imóveis na tentativa de manter o poder de compra do lucro . Não há posicionamento ou esforço do governo em solucionar os dois pontos. Em nota, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior informou que, "nos últimos dias, tem recebido informações sobre o tema e, com o setor privado, está monitorando as operações. Além disso, já se comunicou com o governo argentino com o objetivo de solucionar os eventuais problemas".

Os "encontros de alto nível" entre Brasil e Argentina, que deveriam ser trimestrais, estão esquecidos; última reunião entre Dilma e Cristina foi em janeiro Foto: Dida Sampaio/Estadão

Insolúvel.

A falta de acesso do país vizinho à moeda forte é vista pelo governo brasileiro como "insolúvel" no momento. É isso que está na raiz dos problemas comerciais entre os dois países. O governo brasileiro avalia que a crise ainda deve piorar, mas a ordem é não chamar a atenção para um problema que o Brasil não tem como solucionar agora.

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Fontes do governo explicam que, neste momento, ideias como criar uma fonte de financiamento para os exportadores ou adotar o comércio em moeda local não têm como prosperar. Em plena campanha eleitoral, dificilmente o governo brasileiro adotará medidas contraditórias. Mais do que isso, admitem, há uma paralisia no governo que impede até a negociação de propostas mais polêmicas. Os próximos 100 dias, até a posse do novo presidente e da nova equipe econômica por aqui - mesmo que Dilma Rousseff seja reeleita - serão de espera.

Segundo uma fonte do governo, a presidente Cristina Kirchner está tentando marcar uma reunião com Dilma em Nova York, durante a reunião da 69.ª Assembleia-Geral da ONU. Mas a presidente brasileira quer evitar o encontro a todo custo. Os chamados encontros de alto nível entre os dois países, que deveriam ser trimestrais, estão esquecidos. A última reunião entre Dilma e Cristina foi em janeiro, na Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, em Havana.

A presidente Dilma Rousseff disse ontem, em Nova York, não ter conhecimento sobre a decisão da Argentina de suspender novamente o fluxo de pagamento aos exportadores brasileiros. "Meu querido, eu não vou me manifestar aqui sobre governo de ninguém. Se for isso, nós vamos tomar providências, eu não sei do que se trata. Você está falando de uma coisa que eu não sei, não vou responder", afirmou, após participar da Cúpula do Clima. /

COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA, DE NOVA YORK

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