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Brasil e Argentina discutem fim das barreiras comerciais

Governos fazem mais uma rodada de negociação para tentar por fim às barreiras à carne suína brasileira e aos automóveis argentinos 

Por Tania Monteiro e da Agência Estado
Atualização:

MENDOZA - Mais uma rodada de reuniões está sendo realizada entre os governos brasileiro e argentino para discutir o fim das barreiras às entradas de produtos brasileiros no País. "Se, de fato, eles destravarem as barreiras contra a carne suína, como estão anunciando, nós poderemos fazer um gesto e, por exemplo, destravar algumas importações de carros argentinos, que estão paradas há mais de 60 dias", comentou uma autoridade do governo brasileiro. "Mas, se isso não se efetivar, não poderemos liberar nada", prosseguiu a autoridade. O acordo, no entanto, ainda não está fechado, como querem fazer crer autoridades argentinas.

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O ministro (secretário) de Agroindústria da Província de Mendoza, Marcelo Barg, manteve reuniões com lideranças e empresários brasileiros, para transmitir ao governo as dificuldades da indústria argentina. Algumas empresas tiveram que suspender suas linhas de produção porque 75% do que produz são exportados ao Brasil. "Os problemas para as empresas argentinas estão se acumulando e temos muita urgência em que se negociem a reabertura do comércio", disse um dos empresários ouvidos. A província exporta vinhos, azeitonas, azeite de oliva, maças, peras e queijo, que estão impedidos de entrar no mercado brasileiro, como resposta às barreiras argentinas a quase todos os produtos brasileiros, especialmente,  a carne suína, minérios, máquinas agrícolas, têxteis, calçados.

Durante a reunião, Brasil e Argentina acertaram detalhes para acelerar a concessão de licenças de importação a uma lista dos produtos mais afetados pelas barreiras comerciais bilaterais a partir da segunda-feira. A informação foi confirmada à Agência Estado pelo ministro (secretário) de Agroindústria da Província de Mendoza, Marcelo Barg, uma das regiões argentinas mais afetadas pelas represálias brasileiras ao país. Ontem à noite, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) do Brasil, Fernando Pimentel, e a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, se reuniram com seus homólogos argentinos, Débora Giorgi e Beatriz Paglieri, respectivamente, para finalizar as negociações acertadas previamente entre os técnicos.

Segundo apurou a Agência Estado com fontes de ambos os países, a Argentina se comprometeu a acelerar as importações de produtos brasileiros, como carne suína, minérios, máquinas agrícolas, têxteis, calçados, entre outros, enquanto o Brasil afirmou que vai começar a ampliar a entrada dos seguintes itens argentinos: vinho, uvas passas, carros, azeitonas, azeite de oliva, maçãs, peras e queijo. Nos últimos dias, algumas fábricas de azeitonas em Mendoza, sede da Cúpula do Mercosul, tiveram de dar férias coletivas aos funcionários porque 75% de suas exportações são destinadas ao Brasil. Há pouco mais de um mês, o governo brasileiro tem adotado medidas burocráticas e fitossanitárias aos produtos argentinos em resposta ao endurecimento das barreiras argentinas aos bens brasileiros.

Negociadores da Argentina e do Brasil avançaram, na quarta-feira e na quinta-feira, em um acordo para destravar, inicialmente, o comércio dos produtos mais sensíveis da pauta comercial. Cada país apresentou uma lista dos 10 produtos mais sensíveis. "Houve um avanço moderado para acelerar a entrada de bens cujas barreiras provocam maiores problemas", disse uma das fontes ouvidas. "Vamos observar durante uma semana se, desta vez, a Argentina cumpre o compromisso. E, à medida que os produtos forem liberados, também cumpriremos nossa parte", disse a fonte.

Porém, o objetivo do governo brasileiro é chegar a um acordo geral, sem limitar a negociação a produtos isolados, em detrimento de outros. "O governo brasileiro não fala de um ou outro produto. Falamos de toda a pauta comercial bilateral que hoje está sob o regime das DJAI argentinas", esclareceu uma alta fonte oficial referindo-se às Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação, que equivale a licenças para todas as importações na Argentina.

As fontes revelaram que as conversas iniciais entre as equipes técnicas, que negociaram durante toda a semana, em Mendoza, paralelamente à Cúpula do Mercosul, foram feitas em tom elevado. Houve ânimos e atitudes mais exaltadas no primeiro dia da negociação por parte da secretária de Comércio Exterior argentina, Beatriz Paglieri, e do embaixador argentino em Brasília, Luis Maria Kreckler, que tentaram impor uma agenda de abertura do mercado brasileiro para uma série de produtos, como os da indústria farmacêutica.

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Porém, segundo as fontes ouvidas, os negociadores brasileiros não aceitaram as exigências impostas e cobraram da Argentina o cumprimento de promessas que vêm sendo realizadas há quase dois meses de acelerar, por exemplo, a entrada da carne suína brasileira no país, como prometeu o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, durante visita a Brasília. As reuniões bilaterais serão retomadas no final da tarde com o objetivo de avançar no acordo geral e devem prosseguir amanhã.

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