Brasil e Argentina retomam na quarta-feira, em Buenos Aires, as discussões sobre a recuperação do comércio bilateral, prejudicado especialmente no último ano, quando recuou em 36,75% em comparação com 2001. A iniciativa terá ainda um claro componente político: desarmar toda e qualquer pressão em favor da adoção de medidas que interfiram no livre comércio entre os quatro países do Mercosul. Em especial, a insistência da União Industrial Argentina (UIA) em propor a criação de um mecanismo de compensação nas vendas entre os dois principais sócios. Esse esforço será conduzido pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Márcio Fortes de Almeida, e pelo secretário de Indústria, Comércio e Pequena e Média Empresa do Ministério da Economia da Argentina, Alberto Dumont. Paralelamente, informou Fortes, o grupo de trabalho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ingressou na fase de conclusão dos estudos sobre a operacionalização de uma linha de financiamento de US$ 1 bilhão para as exportações argentinas, sobretudo as vendas para o Brasil. A iniciativa de desobstruir o comércio bilateral foi posta em prática em abril deste ano, quando o desafio era eliminar os "19 pontos irritantes" das agendas dos dois países. Nesses contatos, por exemplo, o Brasil conseguiu demover a Argentina a prosseguir com a investigação de dumping nas exportações brasileiras de produtos têxteis. Márcio Fortes afirmou à Agência Estado, na última sexta-feira, que os números da balança comercial Brasil-Argentina do primeiro semestre não refletem nenhum risco de inundação de produtos brasileiros no mercado argentino. Para ele, ao contrário, as cifras apontam a necessidade urgente de recuperação de níveis de comércio aceitáveis e adequados entre as duas principais economias do Mercosul. A queda acentuada na corrente comercial vem sendo verificada desde o ano passado, quando a Argentina enfrentou uma severa crise econômica. A soma dos embarques de lado a lado atingiu US$ 7,089 bilhões - US$ 2,342 bilhões em vendas brasileiras e US$ 4,747 bilhões, da Argentina. Em 2002, a soma dos embarques foi de US$ 11,208 bilhões. Em 2002, a Argentina passou a ser o sexto destino das exportações brasileiras, quando era o segundo maior mercado no ano anterior. "Queremos retomar um contato sem formalidades, quase empresarial, para solucionar problemas pontuais e estimular o comércio entre o Brasil e a Argentina", afirmou Fortes. "Precisamos retomar os níveis de comércio considerados normais, para que possamos ter mais tranqüilidade ao avaliar os números da balança comercial", completou.