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Brasil e Índia criticam novas propostas da Rodada de Doha

Por JONATHAN LYNN
Atualização:

A Índia e o Brasil criticaram na terça-feira dois novos conjuntos de propostas discutidas na Rodada de Doha de negociações comerciais globais, sinalizando que ainda existem divisões entre países ricos e pobres, apesar dos recentes progressos. Os dois grandes países em desenvolvimento disseram que as propostas da União Européia e dos Estados Unidos para a liberalização do comércio de bens ambientais são uma tentativa disfarçada de melhorar o mercado para produtos de países ricos. Afirmaram também que o texto-base a respeito de "regras" --sobre antidumping, subsídios e pesca-- foi um passo atrás, por fazer concessões demais aos EUA. A Índia, em particular, manifestou preocupação com a excessiva ênfase da negociação agrícola às necessidades dos países ricos, ignorando a agricultura de subsistência, que ocupa milhões de indianos. O embaixador indiano na Organização Mundial do Comércio (OMC), Ujal Singh Bhatia, disse que seu país continua comprometido com a Rodada de Doha, iniciada há seis meses. "Mas, que Deus nos livre, se chegar a hora em que o preço da participação seja impagável da nossa parte, então teremos de nos levantar e dizer isso", afirmou ele à Reuters. Na sexta-feira, Estados Unidos e União Européia propuseram, em nome do combate às mudanças climáticas, a eliminação de tarifas no comércio de 43 bens "ambientalmente corretos", além da criação de um acordo geral sobre bens e serviços ambientais para países desenvolvidos ou de médio desenvolvimento. "Não achamos que isso seja uma base para a negociação de produtos ambientais", disse o negociador brasileiro, Roberto Azevedo. "O Brasil está profundamente desapontado com a proposta. Nós a consideramos modesta, distorcida e protecionista", disse ele a jornalistas. Azevedo lembrou que a proposta euro-americana não faz menção aos biocombustíveis ou às tecnologias para produzi-las --o que seria positivo para o setor brasileiro do etanol. "Qualquer coisa que eles não produzam não está na lista", afirmou. Segundo Bhatia, a Índia estaria disposta a apoiar a liberalização comercial de produtos cujo fim exclusivo seja o combate ao aquecimento global, como painéis solares e moinhos de vento, mas que seria inaceitável que ao longo do tempo a lista fosse ampliada para incluir modelos de carros ou geladeiras de maior eficiência energética. "A lista é um esforço disfarçado para obter acesso a mercados por meio de outros meios, e não satisfaz o mandato para o meio ambiente", afirmou. Brasil e Índia também criticaram as propostas que autorizariam um polêmico método de cálculo de impostos antidumping, atendendo a pedidos dos EUA. Para os dois países, poderia haver abuso de benefícios comerciais para estimular o protecionismo. Os EUA também se disseram frustrados com as propostas de sexta-feira, mas afirmaram que elas serviriam de base para uma negociação. Bhatia disse que o fim dos subsídios pesqueiros, algo elogiado por ambientalistas, criaria dificuldades para que a Índia conseguisse melhorar as condições de vida de seus pescadores, que estão entre as categorias mais pobres do país. As propostas mantêm algumas brechas para o estimulo aos pescadores de países pobres, mas o diplomata afirmou que as opções são onerosas demais. ADOLESCENTES NO VOLANTE Em Washington, a representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, afirmou nesta terça-feira que Brasil e Índia deveriam ter mais responsabilidade e contribuir com ofertas nas negociações. Ao comentar a posição do Brasil e de Índia, que lideram países em desenvolvimento nas negociações de Doha, Schwab afirmou que os dois se comportam como motoristas adolescentes que acabaram de tirar a sua carteira de motorista. "Eles estão descobrindo que, com isso, vem a responsabilidade e vem obrigações. E às vezes é duro estar na grande mesa em uma pequena sala, onde você também espera contribuições em vez de apenas solicitações." Brasil e Índia querem que os EUA e a União Européia reduzam seus subsídios e tarifas agrícolas, o que tornaria seus produtos mais competitivos. Mas os dois países em desenvolvimento resistem às exigências dos ricos para abrir seus próprios mercados, especialmente o de manufaturados

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