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Brasil é o país que mais tomou crédito externo entre os 'cinco frágeis'

Por Fernando Nakagawa
Atualização:

LONDRES - Entre os países emergentes do grupo apelidado de "Cinco Frágeis", o Brasil foi o que mais aumentou a exposição à dívida bancária externa desde o estouro da crise. Levantamento feito pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mostra que o total de empréstimos externos tomado por bancos e empresas no Brasil saltou 66,4% desde junho de 2008, o equivalente a US$ 76,8 bilhões. A dependência externa é um dos temas que preocupam analistas diante da atual redução da oferta de crédito internacional. Dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS) e do Banco Mundial mostram que clientes brasileiros eram responsáveis por US$ 192,6 bilhões em dívidas no exterior em junho de 2013, o último dado disponível. O aumento do montante ficou à frente do observado na África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia - os demais países do grupo que têm sofrido com a desconfiança do mercado. Desde junho de 2008, o crédito externo aumentou 61,6% na Índia, ritmo 5 pontos inferior ao visto no Brasil. No restante dos "Cinco Frágeis", o crescimento foi menos intenso: 49,7% na Indonésia e, bem atrás, Turquia (10,5%) e África do Sul (2,1%). Entre os emergentes, o grande tomador de crédito nesse período foi a China, onde a carteira saltou 250,3%. No sentido contrário, países que foram abatidos pela crise tiveram forte redução do endividamento. Na Espanha, por exemplo, a dívida bancária externa diminuiu quase pela metade e recuou 42,8%. Nos EUA, caiu 6,1%. No jargão econômico, é a chamada "desalavancagem" da economia. Esse dado não contempla captações e emissões de dívida realizadas diretamente por bancos, empresas e governos. Também não são somados empréstimos entre sede e filial de empresas. O crescimento de 66,4% do crédito bancário externo para o Brasil é semelhante ao ritmo visto dentro do País. No mesmo período, o total de empréstimos concedidos pelo sistema bancário que opera no País para clientes domésticos aumentou cerca de 70% em dólar, segundo dados do Banco Central. Normalização. As cifras mostram que bancos e grandes empresas aproveitaram a enorme oferta de crédito barato nos EUA, Europa e Japão. O fenômeno foi resultado da política monetária ultrarrelaxada de países ricos que injetaram bilhões de dólares em suas economias para tentar reanimar a atividade.Parte desses recursos acabou direcionada ao crédito corporativo e, assim, chegou ao Brasil. Agora, com a melhora da economia dos EUA e a retirada gradual de estímulos, analistas temem que emergentes sofram com a menor oferta do crédito que era abundante recentemente. "Bancos americanos têm atualmente exposição de cerca de US$ 325 bilhões aos países emergentes que mais têm sofrido com o estresse - ou apenas 2% da carteira. A exposição aos mercados mais delicados, como Turquia e África do Sul, é pequena. Mesmo assim, um choque por esse canal pode afetar as condições do mercado de crédito", dizem os analistas do banco Barclays em relatório que analisa o setor bancário nos EUA. Segundo os economistas do Barclays, o Brasil é o principal destino do crédito bancário americano entre os grandes emergentes, com quase US$ 100 bilhões em empréstimos. Entre os demais países, cerca de US$ 60 bilhões estão emprestados para clientes na Índia, US$ 28 bilhões para a Turquia e US$ 10 bilhões para a África do Sul.

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