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Brasil entrega lista com 500 fazendas à União Européia

Lista anterior era de 2,6 mil e bloco indicou ao Brasil que aceitará uma lista de apenas 300 fazendas

Por Jamil Chade e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

O governo brasileiro entregou nesta quinta-feira, 14, à União Européia uma lista de cerca de 500 fazendas que estariam em condições de exportar carne bovina para o mercado europeu. Até o final da noite de quarta-feira, diplomatas e funcionários do Ministério da Agricultura faziam o possível para reduzir a lista de fazendas. A União Européia indicou ao Brasil que aceitará uma lista de apenas 300 fazendas. O governo espera que até amanhã um acordo seja estabelecido entre Brasília e Bruxelas. Veja também: Caiado mobiliza bancada ruralista contra embargo da UE Exportadores venderam carne sem certificação, acusa ministroLista preliminar tem 625 fazendas aptas a exportar para UE Rússia suspende importação de carne de boi criado em MT Ministério confirma caso de estomatite bovina em MT União Européia suspende a importação de carne brasileira  Ministro se dobrou ao embargo europeu, diz Pratini A primeira lista de fazendas foi entregue pelo governo brasileiro à União Européia no início deste ano. O número de fazendas indicadas na lista era bem superior à exigência do bloco. No total, 2,6 mil fazendas. Além do número excessivo de fazendas, o documento apresentava graves erros, revelou em entrevista ao Estado, um alto funcionário do Itamaraty. Segundo ele, o governo brasileiro chegou a entregar nomes de fazendas aos veterinários da União Européia sem que as propriedades sequer tivessem passado por vistorias completas, com dados faltando e até laudos técnicos incompletos. Vergonha O funcionário do Itamaraty disse estar inconformado com "o papelão" que o Brasil estaria passando diante das autoridades européias. Ele contou que ligou diretamente para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, quando a lista de mais de 2,6 mil fazendas foi entregue. Embaixadores tentaram convencer o ministro que a lista não seria bem aceita pelos europeus. Mas o Ministério da Agricultura e os pecuaristas teriam decidido ir adiante com a proposta. Ele informou ainda que a insistência em tentar negociar o número de fazendas também contribuiu para a imagem ruim do Brasil. "Isso aqui não é um bazar árabe", alertou o diplomata, que se diz "cansado da irresponsabilidade de certos funcionários do governo". Para ele, deve haver uma avaliação cuidadosa de quem foi a responsabilidade pelo embargo imposto contra o Brasil e o governo deve parar de dizer que irá ameaçar levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC). Crise A crise dentro do governo foi ainda maior na quarta-feira, depois que o ministro da Agricultura admitiu no Senado que o Brasil havia exportado carne sem rastreamento. O Itamaraty julgou que não teria sido o momento adequado admitir as falhas, exatamente às vésperas da reunião que ocorreu ontem em Bruxelas. "O Brasil precisa entender que os europeus não dependem da carne nacional. Temos apenas 6% do mercado da UE e, mesmo que haja uma alta nos preços do produto, somos nós que perdemos com o embargo. Temos de lembrar que a UE representa 21% de nossas exportações", disse o experiente diplomata. Lobby Quem comemorou a declaração de Stephanes foi a Associação de Fazendeiros da Irlanda, principal lobby contra a importação da carne nacional. Os representantes não escondiam a satisfação com a informação dada pelo ministro. Os irlandeses foram os principais prejudicados com a recente invasão da carne brasileira. Para produtores nacionais, a insistência da Irlanda por um embargo tinha cunho protecionista. Para o presidente da entidade irlandesa, Padraig Walshe, a confissão de Stephanes é "chocante". Em sua avaliação, as declarações do ministro "prejudicam seriamente qualquer tentativa do Brasil de restabelecer um comércio com a Europa". "A realidade é que o Brasil não consegue apresentar produtos com a qualidade exigida na Europa e o atual embargo deve ser mantido pela UE", afirmou o irlandês.

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