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Brasil espera que acordo com FMI se estenda até julho de 2003

Por Agencia Estado
Atualização:

A missão negociadora do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que embarca hoje para Washington, discutirá com os dirigentes do FMI uma engenharia financeira que permita a montagem de um acordo com a instituição, que se estenda pelo prazo de três a seis meses do mandato do sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. Não se pode descartar, no entanto, a hipótese de que a negociação se limite a dezembro deste ano, o que significa colocar o foco na revisão dos parâmetros negociados no acordo em vigência com o País, de US$ 15 bilhões. Segundo uma fonte consultada pela Agência Estado, é razoável supor que o FMI não aceite estender a negociação ao próximo governo. O governo sabe que não se trata de uma negociação trivial, diante do fato de que o País está em pleno processo eleitoral e seu candidato, no momento, está colocado como terceira opção do eleitorado, segundo as pesquisas de intenção de voto. Mas aposta que o acordo resultará no ingresso de "volume significativo de recursos" capaz de "construir uma ponte" até os primeiros meses de mandato do sucessor. O montante não é revelado. A expectativa é conseguir dinheiro novo do Fundo, do Banco Mundial (Bird) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid), cabendo a maior soma de recursos ao FMI. Não se trabalha com a hipótese da montagem de apoio financeiro ao Brasil que envolva outros governos. O próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan, já descartou esta alternativa. A possibilidade de se estender o novo acordo com o FMI ao longo de todo o primeiro ano de mandato do próximo presidente só seria possível, na avaliação de fontes ouvidas pela Agência Estado, se houvesse um compromisso tácito dos candidatos ainda nesta fase preliminar da campanha eleitoral. "Seria irrealista, neste momento, propor uma negociação para todo o ano de 2003", afirmou um assessor. Esta idéia, no entanto, foi cogitada, mas os candidatos oposicionistas se recusaram a formalizar um compromisso prévio. "Não seria razoável exigir dos candidatos um comprometimento de que, se eleito, deveriam cumprir tal e tal compromisso", ponderam as fontes. Neste contexto, as negociações sob o comando do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Amaury Bier, resultarão em um acordo que, mesmo não sendo por prazo muito longo, será capaz de permitir tranquilidade ao processo de transição do governo, na avaliação de assessores. Depois da posse, o candidato vencedor poderá retomar negociações com o Fundo e avaliar a necessidade de prorrogação ou não do acordo por um prazo mais longo. Enquanto isso, as atenções do governo estão colocadas na argumentação para sensibilizar o FMI a aprovar a "decisão política" de ajudar o Brasil durante o período eleitoral. O governo avalia que não há interesse de asfixiar a economia brasileira porque o resultado poderia ser a disseminação de risco sistêmico em toda América Latina. Além disso, os negociadores irão lembrar que nos últimos anos o País cumpriu com folga as metas fiscais e adotou medidas de transparência fiscal que estão servindo de munição aos candidatos de oposição, como o reconhecimento de dívidas antigas, os chamados esqueletos, responsável por parcela considerável do aumento da relação da dívida líquida para o patamar de cerca de 60% do PIB este ano. A busca de novos recursos do Fundo, como avaliam os assessores, se tornou necessária para fazer frente às turbulências do mercado doméstico, própria dos períodos eleitorais, associadas à crise nos Estados Unidos provocada pelos escândalos contábeis das corporações norte-americanas. O governo reconhece que a situação é complexa, admite que o País está começando a enfrentar as dificuldades provocadas pela retração da oferta de crédito às empresas brasileiras, para linhas de comércio exterior e de rolagem das dívidas, mas aposta que o Brasil está longe da trajetória de um País em calote.

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