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Brasil está a caminho de uma moratória, diz Bear Stearns

Por Agencia Estado
Atualização:

O economista-chefe internacional do banco Bear Stearns, David Malpass, disse hoje, durante teleconferência com analistas e investidores, que o Brasil está a caminho de decretar moratória da sua dívida. "Se não houver uma mudança na política econômica do País, então haverá uma moratória" , afirmou Malpass. Indagado sobre quando essa moratória poderá ocorrer, Malpass disse que o tempo dependerá de como o Fundo Monetário Internacional (FMI) irá operar em relação ao Brasil. "Se o FMI liberar dinheiro para o Brasil agora, então poderá atrasar esse evento para depois das eleições", avaliou. Segundo ele, há uma premissa no mercado de que a moratória do Brasil somente ocorreria depois das eleições presidenciais, cujo segundo turno acontece em novembro deste ano, também porque o Banco Central dispõe de ferramentas suficientes para atrasar esse processo. "Embora o nervosismo no mercado a possibilidade de vitória de Lula ou Ciro possam diminuir a capacidade do Brasil de pagar a dívida, eu acho que o resultado das eleições não fará a menor diferença nessa questão", explicou Malpass. "Ao contrário da avaliação do FMI, de que passada a eleição, o mercado e a economia brasileira se estabilizaria, eu acredito que o grande problema do Brasil é o crescimento econômico, e não a volatilidade com as eleições", afirmou o economista do Bear Stearns. Para Malpass, a maior probabilidade é de o BC utilizar as ferramentas de que dispõe para atrasar o máximo que puder a moratória da dívida. "Além de declarações fortes de apoio do FMI e do Tesouro norte-americano, que poderiam ser divulgadas num período favorável, para atrasar a queda do mercado brasileiro, o BC poderá fazer a rolagem da dívida interna através dos fundos de pensão brasileiros, que são altamente controlados, assim como fez a Argentina", explicou. FMI Malpass acha difícil que haja um novo programa do FMI para o Brasil antes das eleições. "Ainda não está claro que todos os candidatos no Brasil querem um pacote de transição, então fica difícil para o FMI emprestar dinheiro no cenário de eleições", afirmou. "O cenário político brasileiro hoje não mostra uma concordância e acordo no qual o FMI poderá emprestar", disse. No entanto, Malpass acredita que há uma maior disposição do FMI de ajudar o Brasil do que foi observado com a Argentina em 2001, mas há uma confusão por parte do FMI sobre qual é o problema do Brasil. Para ele, o FMI precisa mudar de direção na sua receita de política econômica, incentivando medidas para acelerar o crescimento. Segundo ele, sem crescimento econômico, o País não poderá estabilizar a dinâmica da dívida pública. "E o País está afundando rapidamente. Com a alta dos spreads da dívida, o C-Bond hoje negociando a 58 centavos de dólar, é cada vez maior a barreira para o Brasil voltar a crescer", afirmou. Para Malpass, se o FMI injetar dinheiro novo no Brasil poderá produzir um efeito positivo de confiança. "A Argentina recebeu três grandes pacotes de ajuda financeira do FMI, que atrasaram a moratória daquele país", afirmou. O economista do Bear Stearns também criticou as intervenções do Banco Central para tentar estabilizar o mercado de câmbio. "O BC está esterilizando suas intervenções ao comprar instrumento locais de dívida, reinjetando reais na economia de novo. Com isso, a base monetária não é afetada, pois o que o BC deveria fazer é vender dólares na economia e colocar os reais em carteira, extinguindo os reais da economia", explicou.

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