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Brasil está de volta ao mercado de armas

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo federal quer restabelecer a boa posição da indústria brasileira de equipamentos militares de defesa no portfólio das exportações de produtos nacionais manufaturados. Nos anos 80 o segmento manteve cadência anual superior a US$ 1,5 bilhão em vendas internacionais, mas foi vitimado a partir de 1990 pela combinação negativa de má gestão das principais corporações envolvidas, retração do mercado internacional e absoluta incompetência dos governos dos presidentes Fernando Collor de Mello (PRN), Itamar Franco (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em compreender a importância estratégica do setor. O primeiro movimento para resgatar o prestígio perdido foi o lançamento, na quarta-feira, em Brasília, do Diretório da Indústria da Defesa, catálogo institucional que lista 374 empresas que produzem de blindados a fardas, passando por armamento altamente sofisticado, como mísseis com inteligência eletrônica e foguetes balísticos com alcance na faixa de 100 quilômetros. A esses itens são somados artigos como munições de variados tipos, hospitais modulares de campanha e softwares de treinamento digital. A estratégia montada pelos ministérios do Desenvolvimento, Defesa e Relações Exteriores, prevê que os diplomatas, particularmente os adidos militares, ajam como divulgadores dos produtos, cumprindo as primeiras etapas de eventuais negócios que venham a ser formalizados. Vendedores Já foi assim quando a chefia do Departamento da Promoção Comercial do Itamaraty esteve sob o comando do embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima: os integrantes dessa área nas embaixadas agiam "como vendedores, e não como mestres de cerimônia", lembra o ex-embaixador. O presidente Fernando Henrique Cardoso demorou muito tempo, quase oito anos, para compreender a influência decorrente de haver no País uma indústria bélica exportadora. O engenheiro José Luiz Whitaker Ribeiro, ex-presidente da extinta Engesa, a gigante do complexo produtor de sistemas de defesa, diz que nesse campo "as transações são feitas no mais alto nível do poder: sentam-se nas mesas de negociação governantes e seu primeiro escalão financeiro". Governo-cliente A lógica do raciocínio de Whitaker é a de que "depois de vender armas para um determinado exército nacional, fica muito mais fácil oferecer ao presidente do governo-cliente o fornecimento de serviços de engenharia, alimentos, automóveis ou qualquer outra coisa." A Engesa manteve uma carteira de vendas para forças armadas de 32 países e em 26 dessas praças - entre as quais estão o Iraque, a Líbia a Arábia Saudita e todos os vizinhos do Brasil na América do Sul - abriu caminho para outros negócios, da engenharia de rodovias à exportação de carne resfriada de frango. Outro exportador de equipamento militar brasileiro, o engenheiro João Verdi de Carvalho Leite, presidente da Avibrás Aeroespacial, de São José dos Campos (SP), vendeu em um único ano, 1985, cerca de US$ 1 bilhão em veículos lançadores e foguetes de saturação do sistema Astros II para o Iraque, a Arábia Saudita e o Catar. Sobrevivente Ao contrário da Engesa, que não sobreviveu à crise, faliu e fechou, a Avibrás diminuiu de tamanho, mas continuou presente no mercado. Esse ano fechou o primeiro grande contrato desde a Guerra do Golfo, em 1991. A encomenda do exército da Malásia contempla US$ 120 milhões em baterias do Astros II, com opção para mais dois lotes, totalizando US$ 400 milhões até 2005. O grupo dirigido por Verdi investiu em desenvolvimento, segundo o empresário, "para percorrer o mundo apresentando um catálogo que, além dos bem sucedidos foguetes com alcances de 13 a 100 km, contém mísseis antitanque dirigidos por fibra ótica, um míssil de cruzeiro com alcance de 300 km e toda uma nova ´família´ de foguetes leves ar-terra e terra-terra." Quando assumiu o governo em 1995, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso superou o político FHC e determinou um período de congelamento da indústria de equipamentos militares. Pouco interessado pelo assunto, homem de natureza conciliadora e admirador do intervenção diplomática, o presidente da República só tomou conhecimento do pesado jogo da guerra, seus objetos e objetivos, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Tamanho da crise Estranhou que os comandos militares das três forças não o tivessem alertado para a crise qualitativa de equipamentos que pode levar parte da tropa ao colapso. Em conversa com um grupo de oficiais generais em Brasília, Fernando Henrique foi informado de todos haviam relatado o tamanho da crise. Disciplinados, trataram então de executar seu trabalho da melhor maneira possível. Mas, como frisou um dos comandantes mais antigos, "chegou a hora em que é preciso reconhecer a impossibilidade de continuar." Além da projeção estratégica, o governo quer obter divisas para melhorar o perfil do orçamento destinado a atender os gastos militares. Para 2003 a dotação do Ministério da Defesa no Orçamento Geral da União é de R$ 4,45 bilhões, uma previsão 32,6% maior que a de 2002 e que dificilmente sofrerá cortes ao longo do exercício. O País tem compromissos operacionais de segurança cada vez mais efetivos por conta da crescente tensão nas fronteiras noroeste e norte da amazônia, da Venezuela à Bolívia, com foco centrado nos 1,6 mil quilômetros da divisa com a Colômbia.

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