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Brasil informa aos EUA que poderá ir à OMC contra o aço, soja e algodão

Por Agencia Estado
Atualização:

Insatisfeitos com as respostas do representante para o Comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, sobre o aumento da cota de embarque de produtos semi-acabados de aço, os negociadores brasileiros indicaram nesta terça-feira a Zoellick a disposição do governo brasileiro de apresentar queixa contra os Estados Unidos à Organização Mundial do Comércio (OMC). Ainda ameaçaram elevar a tarifa de importação de aço, como forma de evitar uma inundação no mercado pelos produtos siderúrgicos antes direcionados à indústria norte-americana. Em resposta, Zoellick deixou apenas uma brecha para o Brasil conseguir o aumento da cota. Essa brecha, entretanto, seria aberta somente dentro de cerca de 120 dias, quando o governo norte-americano deverá realizar a primeira revisão das medidas de salvaguardas às importações de siderúrgicos, com o objetivo de confrontar os resultados com o cenário de recuperação econômica do país e a inflação interna. Soja e algodão Durante almoço no Itamaraty, autoridades brasileiras informaram a Zoellick, pela primeira vez, que o Brasil poderá iniciar outras duas controvérsias contra os Estados Unidos na OMC. Desta vez, contra os subsídios aos produtores de soja e de algodão. Depois de encontrar-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso, Zoellick concedeu uma entrevista na qual voltou a argumentar que os Estados Unidos reservaram um tratamento mais generoso ao Brasil ao dividir a cota global de importação de semi-acabados de aço. Zoellick ainda insistiu em afirmar que essa decisão estava embasada principalmente na cooperação e na complementariedade entre as siderurgias do Brasil e de seu país. Seriedade Esquivando-se de tratar diretamente do pleito brasileiro de elevação dessa cota, preferiu destacar a revisão já agendada das salvaguardas no próximo mês de julho. ?Criamos um processo de revisão (das salvaguardas), que ocorrerá dentro de 120 dias, e vamos tratá-lo com toda a seriedade. Nos anos seguintes, também ocorrerão novas revisões?, afirmou Zoellick, referindo-se ao prazo de três anos de vigência das salvaguardas. ?Mas não posso prometer algo sem saber o que vai acontecer. Não podemos colocar a nossa indústria em situação de desvantagem em relação às compras externas?. Durante almoço no Itamaraty e as discussões que o precederam, Zoellick deixou a impressão de que o governo norte-americano se mostra atento às reações dos países fornecedores de aço. Uma das autoridades presentes informou à Agência Estado que os EUA se manterão fechados e defensivos em relação à gritaria dos países fornecedores de aço, mas continuarão dispostos a ouvir as queixas. Gargalo Para essa fonte, seria prematuro prever uma ampliação da cota de embarques de semi-acabados brasileiros em julho. Essa possibilidade estaria, em princípio, vinculada a um cenário de crescimento econômico nos Estados Unidos, ainda neste ano, mais acentuado que o imaginado hoje em dia. Com o gargalo à importação de produtos siderúrgicos, essa situação de reativação poderia provocar aumento de preços internos e, portanto, elevar os indicadores inflacionários. Nesse caso, os Estados Unidos seriam forçados a expandir a aliviar as salvaguardas. Nas conversas que ocorreram no Itamaraty, Zoellick foi questionado sobre a possibilidade de as salvaguardas ao aço provocarem iniciativas protecionistas em ?efeito dominó? em todo o mundo. O representante foi alertado sobre o pleito da indústria nacional de elevação da tarifa de importação, hoje de 12%, para 30%. ?Isso é o pior que poderia acontecer?, afirmou. Esquiva Horas depois, durante a entrevista à imprensa, o representante se esquivou de responder questão sobre a ameaça das siderúrgicas brasileiras deixarem de importar carvão siderúrgico dos Estados Unidos, como represália. O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, tomou a iniciativa de responder e afirmou que essa decisão seria exclusivamente empresarial e não poderia ser tratada como tema de governo. Zoellick ainda rebateu a ameaça do governo brasileiro de apresentar queixa à OMC contra a política de subsídio à produção de soja e de algodão dos Estados Unidos. Conforme defendeu, o Brasil ?tem o direito? de seguir esse caminho. Mas informou que o governo norte-americano terá o cuidado de impedir que o aumento dos benefícios, previsto no projeto de Farm Bill em tramitação no seu Congresso, não ultrapasse os limites previstos pela organização e não provoquem distorsões nos preços dos produtos. Ainda acentuou que a melhor opção seria os dois países trabalharem de forma cooperativa, assim como vem fazendo na própria OMC em favor da eliminação total dos subsídios à exportações agrícolas. ?O bom resultado é melhor que um litígio excelente?, afirmou, valendo-se de frase repetida por Lafer.

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