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Brasil mobilizou R$ 483 bilhões para combate à crise

Para economistas, montante foi suficiente para evitar impacto maior da turbulência financeira.

Por Fabrícia Peixoto
Atualização:

Um ano depois do agravamento da crise financeira internacional, as medidas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro somam R$ 483 bilhões, o que, na visão de economistas, mostrou-se "suficiente" para blindar a economia nacional de um impacto maior. Desse total, R$ 15 bilhões sairão diretamente do caixa do governo, por meio da redução de impostos. Outros R$ 6 bilhões de gastos para construção de casas também estão previstos no orçamento deste ano. A maior parte das medidas, no entanto, não teve impacto fiscal. Cerca de R$ 289 bilhões foram colocados à disposição do mercado pelo Banco Central, principalmente pela redução do compulsório bancário - dinheiro que pertence às instituições financeiras que fica retido pelo BC. Esses recursos não entram na contabilidade fiscal do governo e nem chegaram a ser totalmente utilizados. Mas, segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo Silveira, foram "essenciais" em um momento delicado da crise. "O crédito no país secou em poucos dias. A reação do BC no início desse processo foi crucial", diz o economista. Fôlego Com a quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro do ano passado, as instituições financeiras no Brasil e no mundo reduziram os empréstimos, prejudicando o caixa das empresas. Uma das primeiras medidas anunciadas pelo governo brasileiro, a liberação do compulsório - que no total somou R$ 100 bilhões - deu fôlego ao mercado de crédito no país. O economista Celso Grisi, do Instituto de Pesquisas Fractal, diz que a liberação do compulsório e o aumento da verba para empréstimos via BNDES (R$ 100 bilhões) conseguiram manter o mercado interno "ativo". "Não importa tanto se o dinheiro foi realmente utilizado. O fato de ter sido colocado à disposição é que permitiu ao Brasil passar pelo auge da crise sem pânico", diz. Impostos Preocupado com a queda no consumo, o governo decidiu, a partir de novembro, reduzir impostos sobre alguns produtos, como automóveis, eletrodomésticos e materiais de construção. Na avaliação de Grisi, a escolha desses setores foi "acertada". "Não apenas porque estimulam outros setores da indústria, mas também por serem grandes empregadores", diz. Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a isenção de IPI sobre o setor automotivo ajudou a "salvar" até 60 mil empregos (diretos e indiretos) no primeiro semestre deste ano. Uma das críticas ao programa de desoneração fiscal implementado pelo governo diz respeito ao "efeito antecipação": a redução dos impostos teria apenas antecipado a decisão de compra, sem exatamente estimular a criação de um novo público consumidor. O número de emplacamento de novos veículos, que vinha crescendo de fevereiro a junho, registrou queda em julho, sinalizando um possível desaquecimento das vendas. Na avaliação de Grisi, esse é um efeito "natural e até esperado". "O governo ajudou em um momento de emergência, mas o pior já passou. A partir de outubro, o IPI dos carros volta a ser cobrado e caberá às empresas encontrar formas de manter as vendas aquecidas", diz Grisi. Investimentos Ao contrário do que ocorreu na maioria dos países ricos - como Estados Unidos e Japão - os investimentos públicos tiveram peso limitado nas medidas anticíclicas adotadas no Brasil. De janeiro a julho deste ano, os investimentos do governo federal cresceram 16,7% em relação a 2008, somando R$ 15 bilhões. No mesmo período do ano passado, ou seja, antes do estouro da crise, os investimentos haviam crescido 48% sobre o ano de 2006. Na avaliação de Grisi, o fato de os gastos com custeio (despesas fixas) terem crescido a uma velocidade maior do que os investimentos "não combina" com um momento de crise. "O governo não deu a resposta que deveria ter dado no que diz respeito aos investimentos. Ao mesmo tempo, o reajuste do funcionalismo público foi agressivo. Isso vai pesar nas contas públicas", diz o economista. Já Pedro Paulo Silveira, da Gradual Investimentos, não vê com surpresa o baixo nível de investimento público durante a crise. "O governo tem em mãos uma planilha de investimentos de longo prazo que está submetida a questões legais e burocráticas", diz. "Isso não muda facilmente", acrescenta. Um exemplo é o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida - que, apesar de ter sido lançado em meio à crise financeira, só estará totalmente finalizado no final de 2010. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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