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Brasil nega que retomada de Doha dependa apenas do G-20

Para o Itamaraty, País fez oferta de abertura de mercados agrícolas e espera que os EUA, a UE e os outros parceiros da OMC também façam sua parte

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo brasileiro rebateu nesta segunda-feira, 15, a tentativa dos Estados Unidos de jogar a responsabilidade pela retomada da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio no colo do G-20, o grupo de economias em desenvolvimento liderado pelo Brasil e a Índia. O diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, ministro Roberto Azevedo, declarou que o G-20 jamais se negou a dar sua contribuição para a Rodada, colocou sobre a mesa sua oferta de abertura de mercados agrícolas e espera que os Estados Unidos, a União Européia e os outros parceiros da OMC também façam sua parte. "Os Estados Unidos podem achar tímida a oferta do G-20 de corte de 36% nas tarifas de importação de bens agrícolas dos países em desenvolvimento", afirmou Azevedo. "Da mesma forma, achamos tímida a proposta dos Estados Unidos de corte dos subsídios a seus agricultores." Na última sexta-feira, em Genebra, a representante dos Estados Unidos para o Comércio, Susan Schwab, afirmou que a proposta do G-20 de liberalização do mercado agrícola nos países em desenvolvimentos tornou-se o ponto crítico para a retomada da Rodada, suspensa desde julho do ano passado. Desde então, os Estados Unidos apenas deram sinais de que podem oferecer um corte maior nos subsídios agrícolas - a questão que, de fato, destravaria a negociação. Washington atrela esse movimento a uma abertura maior do mercado europeu e também a um recuo do subgrupo do G-20 de tendência mais protecionista, liderado pela Índia. Esse subgrupo quer manter 20% da pauta de importação agrícola totalmente protegida. Trata-se de uma posição que contraria a facção do G-20 liderada pelo Brasil, a dos exportadores agrícolas. Missões Esse clima de empurra-empurra se dá a menos de duas semanas de uma reunião de ministros dos países relevantes na OMC, no próximo dia 27, em Davos, na qual serão tratadas as chances de retomada das negociações até abril deste ano. Um dos participantes, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, escalou Azevedo para travar antes conversas "exploratórias" nos Estados Unidos, com parlamentares das comissões do Congresso que decidem as questões comerciais do país, e com a equipe de G. K. Pillai, principal negociador da Índia. Azevedo afirmou que entre quarta e sexta-feira, em Washington, espera desfazer erros de percepção sobre a Rodada que muitas vezes transparecem nas declarações de parlamentares americanos. Na verdade, sua tarefa é bem mais delicada. O Congresso americano precisa ser convencido a renovar a Trade Promotion Authority (TPA), o mandato que concede ao Executivo para fechar acordos comerciais e que vencerá em julho. Convencer, nesse caso, significa dar sinais claros dos ganhos que parte dos setores produtivos americanos obterão se a Rodada for concluída. Sem a renovação da TPA, a Rodada será enterrada de vez. Em Nova Délhi, nos dias 22 e 23, Azevedo prosseguirá com a "exploração de alternativas", o mesmo trabalho que vem realizando com negociadores americanos e europeus. Mas, também nesse caso, sua missão será singular - garimpar um possível acerto dentro do G-20 sobre uma abertura maior do mercado agrícola dos países em desenvolvimento. Chegar a uma posição mais razoável sobre os produtos agrícolas das economias em desenvolvimento que continuarão sob proteção dentro do próprio G-20 será meio caminho para o acordo final. Os Estados Unidos estão cientes disso e apostam nessa solução.

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