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Brasil perde investidores em títulos da dívida

Retirada do 2º grau de investimento bloqueia oacesso do País a quase75% dos recursos deinvestidores em bonds

Foto do author Cynthia Decloedt
Por Cynthia Decloedt (Broadcast), SÃO PAULO e Altamiro Silva Junior/NOVA YORK
Atualização:

A perda do grau de investimento do Brasil por uma segunda agência de rating fecha o acesso a quase 75% dos recursos de investidores estrangeiros que compram títulos de dívida (bonds) de empresas e do Tesouro. Indo para a categoria junk, os potenciais emissores de bônus voltam às mãos de investidores com estratégias mais especulativas, que privilegiam papéis de prazos mais curtos e têm postura mais oportunista. Bancos e gestoras como a Blackrock, T.Rowe Price, Janus Capital, JP Morgan, Pimco, Aberdeen, Blackstone e Bank of America têm carteiras do tipo.

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“Esse investidor tem visão de curto prazo e escolhe os ativos comparativamente. Não tem a postura do institucional, que escolhe o País e carrega o papel por longo período”, disse Joaquim de Oliveira, sócio da Souza Cescon. “Em paralelo ao custo mais alto, a grande dificuldade para as empresas será alongar prazos”, acrescenta.

Após o corte da nota do Brasil pela Fitch, na última quarta-feira, a estrategista de dívida do Bank of America Merrill Lynch, Anne Milne, escreveu a clientes que aproximadamente US$ 25 bilhões em bônus de empresas e bancos passariam à categoria high yield, ou seja, alto retorno e alto risco, por perderem o grau de investimento por duas agências. O BofA estima também que o evento muda o perfil de risco de toda a América Latina, pois as companhias brasileiras estão entre as que mais emitiram bônus no mercado internacional.

Pelos cálculos do banco, o rebaixamento das empresas levaria 60% da dívida da região a ser classificada como “junk”, ante 47% quando o Brasil ainda tinha o selo de bom pagador em todas as agências. Com exceção deste ano, o Brasil vinha respondendo por 40% a 60% das emissões feitas por empresas e governos da América Latina. Entre 2010 e 2014, período de ampla liquidez externa provocada pela manutenção próxima a zero das taxas de juro no exterior, o Brasil captou mais do que o dobro do que tinha feito nos 10 anos anteriores, ou seja, cerca de US$ 237 bilhões, segundo dados da Dealogic. Ao mesmo tempo, os emissores corporativos brasileiros conseguiram alongar prazos, em alguns casos, em até 30 anos, algo só possível junto a investidores institucionais estrangeiros.

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