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Brasil pode arriscar aquisições no setor plástico argentino

Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil pode ir às compras na Argentina, se quiser fazer bons negócios no mundo plástico. "Esta é a hora", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), Merheg Cachum. Seu colega argentino, secretário-executivo da Câmara Argentina da Indústria do Plástico (Caipe), Oscar Sanches, avalia de igual forma, mas mantém cautela. E previne. "O pacote econômico divulgado neste final de semana não diz respeito à situação da indústria argentina. Não sabemos como ficará o endividamento e contratos em dólares", completa. O bom momento das compras é explicado pelo fim da paridade dólar/peso, por meio da qual a produção do país vizinho será mais competitiva para exportações, devido à desvalorização de 28,5% do peso frente ao dólar, e mais vendável, à medida em que o mercado interno se recuperar. A maior fatia da produção de transformados plásticos argentina está nas mãos dos fabricantes de embalagens para alimentos, seguida pela de laboratórios. As mais atingidas são as de autopeças e materiais para a construção civil (tubos e conexões, por exemplo). "Mas qualquer análise sobre o que está ou será vendido seria prematura", observa o secretário-executivo da Caipe. Preocupação A indústria argentina em geral não tem certeza sobre o que acontecerá com as dívidas e contratos em dólar. No caso do segmento de plásticos, Sanches também não soube dizer qual o montante da dívida das empresas. "Sabemos apenas que a desvalorização da moeda valerá para uma lista de produtos tipo importação e exportação, e sobre os demais valerá um câmbio livre?. Como a lista está em produção, ele não pode precisar se entrarão manufaturados plásticos. Além da incerteza sobre as dívidas, há indústrias de transformação que penhoraram várias vezes os mesmos equipamentos e máquinas a diferentes credores, para comprar resinas termoplásticas. Esses registros dificilmente são encontrados pelos interessados na compra. A Dixie Toga, que já possui uma fábrica na Argentina, deverá fechar novo negócio no país vizinho no primeiro trimestre deste ano. A avaliação sobre o ativo em vista foi iniciada no segundo semestre de 2001. E a demora deve-se a uma análise profunda sobre os passivos, a fim de não ter que arcar com o mico da múltipla penhora. Insolvência A ameaça de insolvência faz com que a produção de resinas local busque outros mercados, entre os quais, o brasileiro. Além disso, as exportações procuram países que pagam melhores preços. O preço da resina brasileira é um dos mais altos do mundo, superando as cotações da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos. O que resguarda o País de uma enxurrada de importados são as barreiras tarifárias, que da Argentina para cá não incidem. "Os transformadores argentinos têm que importar 50% das 1,2 milhão t/ano de resinas que usam", informa Oscar Sanches. E não é por falta de material nem capacidade instalada, pois o país produz PVC, polietileno, polipropileno, PET e poliestireno suficientes para atender à demanda interna. "Exportam muito e não conseguem abastecer o mercado interno", ratifica o secretário-executivo da Caipe. Comércio exterior Segundo dados sobre comércio exterior da Abiplast, em 2000 o Brasil importou US$ 57 milhões e exportou US$ 94 milhões em manufaturados plásticos para a Argentina. E, de janeiro a outubro de 2001, os dados mais atualizados de que a entidade dispõe dão compra de US$ 46 milhões do país vizinho e vendas US$ 80 milhões a ele. A divisão de comércio exterior da Abiplast avalia que o comércio exterior entre os dois países não terá grande alteração em 2001, o pior ano da crise argentina. "O comércio Brasil/Argentina, nessa área, sempre manteve esses patamares", informa. O problema econômico também não alterou o perfil da balança, porque a Argentina continua sem fabricar os produtos que importa do Brasil. Entre eles estão componentes eletrônicos, peças automotivas, filmes adesivos de polipropileno e até eletrodomésticos. "Sobre o perfil deste ano, acreditamos que as exportações do Brasil para lá aumentem", pontua Merheg. Se o plano econômico vingar, haverá aumento da demanda e a indústria, cujas condições plenas de produção foram bastante prejudicadas por anos a fio de crise, não poderá atendê-la plenamente. Voltar a exportar A Polietilenos União, subsidiária integral do Grupo Unipar e fabricante da resina termoplástica polietileno, espera a retomada argentina para reestabelecer as exportações ao país vizinho. A empresa comercializa no mercado externo 20% de sua produção de 130 mil t/ano. A maior parte desse total era vendida para a Argentina e, com a crise no país vizinho, foi redirecionada para outras regiões, como Europa e China. "Mesmo que tenhamos vendido para a Ásia, sem margem, mantivemos a ocupação da capacidade instalada em 100%", disse o vice-presidente da Unipar, Vítor Malmann. Mantendo as operações a 100%, a Polietilenos União combinou o equilíbrio dos estoques e do capital de giro. O redirecionamento das vendas externas vem acontecendo desde meados do ano passado, quando a crise argentina começou a se agravar. "Mas nos interessa vender para a Argentina, como prioridade. Avaliaremos o desenlace do quadro atual para retomarmos as negociações assim que as condições forem normalizadas", observou Malmann. Leia o especial

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