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Brasil pode ir à OMC no caso da vaca louca

Japão, China, Coreia do Sul, África do Sul, Egito e Arábia Saudita seriam denunciados

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

O secretário da Defesa Agropecuária do Brasil, Ênio Marques, fixou prazo até março de 2012 para que todos os países retirem os embargos contra a carne bovina brasileira em razão do caso de mal da vaca louca registrado em 2010 e revelado há poucas semanas. Depois disso, disse Marques ontem, na sede da Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE), em Paris, o país vai denunciar esses países à Organização Mundial do Comércio (OMC).Por ora, Japão, China, Coreia do Sul, Egito, África do Sul e Arábia Saudita impuseram restrições à carne brasileira em razão de um caso de contaminação pela proteína príon, agente da encefalopatia esfongiforme bovina (BSE), mais conhecida como mal da vaca louca.O animal, de 13 anos de idade, não morreu em função da doença. Mas amostras coletadas em 2010 na cidade de Sertanópolis, no interior do Paraná, e analisadas em 2012 indicaram a presença da proteína, despertando a mobilização do Ministério da Agricultura em junho passado.Informada oficialmente pelo governo brasileiro, a OIE analisou o caso e, apesar do longo tempo transcorrido até a notificação da comunidade internacional, não vê razões para alterar o status do Brasil na classificação de risco de epidemia da doença. Junto de 18 outros, o país integra a categoria "risco negligenciável", a mais segura, segundo a organização."O Brasil tem 250 milhões de cabeças de gado e registrou um caso. É uma gota de água no oceano", reiterou ontem o diretor-geral da OIE, Bernard Vallat, em uma entrevista coletiva com a presença de representantes do Ministério da Agricultura. "O país foi considerado 'risco negligenciável', reconhecido por unanimidade. Um animal idoso como esse não põe em perigo o status", entende.Ainda assim, caberá ao comitê científico da OIE, formado por experts independentes, avaliar a situação do país em uma reunião em fevereiro, segundo Vallat antecipou ao Estado na quarta-feira. Se nenhum novo caso for identificado, a classificação deverá ser confirmada.Reação. Certo de que não há razões para embargos, o governo deve partir para o ataque. Nas últimas semanas, uma comitiva liderada por Ênio Marques está fazendo uma cruzada internacional para explicar que o caso de contaminação foi isolado, espontâneo - a proteína teria sido produzida pelo próprio animal, e não ingerida - e sem consequências.A estratégia de diálogo, que passa também pelo Ministério das Relações Exteriores, deve ser usada até março. Se os embargos forem mantidos, o Brasil partirá para o confronto contra esses países.Deadline. "Se até março não cancelarem os embargos, nós vamos apresentar uma reclamação formal à Organização Mundial do Comércio (OMC)", disse Marques. "Março é nosso deadline", afirmou o secretário.De acordo com o secretário, o impacto econômico dos embargos ainda é pequeno, já que o Egito, um grande importador de carne bovina brasileira, só restringiu a compra da produção do Paraná. O prejuízo, porém, se agravará se a Rússia vier a anunciar um boicote, porque o país é responsável por 20% do 1,1 milhão de toneladas de carne bovina exportadas pelo Brasil.Outra preocupação é Hong Kong, que importa 13% do total, mas que por ora não aderiu ao embargo chinês. Japão, China e África do Sul respondem por entre 0,3% e 0,6% das exportações brasileiras de carne bovina.

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