'Brasil pode ir para hiperinflação muito rápido se não rolar dívida satisfatoriamente', diz Guedes

Ministro disse se sentir frustrado por ainda não ter conseguido vender nenhuma estatal e afirmou que acordos políticos no Congresso impediram privatizações

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Por Lorenna Rodrigues, Eduardo Rodrigues e Thaís Barcellos
4 min de leitura

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta terça-feira, 10, que o Brasil pode "ir para uma hiperinflação muito rápido" se não rolar a dívida satisfatoriamente. No evento "Boas práticas e desafios para a implementação da política de desestatização do governo federal", organizado pela Controladoria Geral da União (CGU), ele se disse frustrado por não ter conseguido ainda privatizar nenhuma empresa estatal, como prometido na campanha do presidente Jair Bolsonaro, e defendeu desinvestimentos para reduzir o endividamento público.

Os economistas classificam de "hiperinflação" quando o principal conjunto de preços de um País - o Índice Nacional de Preços a Consumidor Amplo (IPCA), no caso brasileiro - aumenta de valor em mais de 50% em um mês. O Brasil viveu mais de uma década nessa situção, entre o começo dos anos 1980 e o lançamento do Plano Real em 1994. Em março de 1990, a inflação mensal ultrapassou a casa dos 80%. 

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Como comparação, em outubro deste ano o IPCA subiu 0,86%, de acordo com dados divulgados na sexta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O centro da meta de inflação para todo o ano de 2020 é de 4%, mas os analistas de mercado esperam um índice de 3,20% neste ano, de acordo com o Relatório Focus do Banco Central publicado na segunda-feira, 9.

Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters

"Estou bastante frustrado com o fato de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido ainda vender nenhuma estatal. Por isso, um secretário nosso foi embora (Salim Mattar, que deixou o ministério em agosto). Entrou outro (Diogo Mac Cord) que só tem de fazer um gol pra ganhar; o outro fez zero", afirmou.

O ministro disse que acordos políticos na Câmara dos Deputados e no Senado impediram as privatizações. "Precisamos recompor nosso eixo político para fazermos as privatizações prometidas na campanha", completou.

Sem conseguir levar desinvestimentos nem a venda de imóveis públicos para frente, Guedes ressaltou que o País carrega empresas e bens ineficientes, enquanto tem uma dívida que cresce como "bola de neve". "Se tivéssemos matado a dívida, estaríamos com recursos alocados para fazer transferência de renda", completou.

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Em outro evento também nesta terça, o ministro afirmou que,  até dezembro de 2021, quatro estatais já deverão ter sido vendidas: Correios, Porto de Santos, Eletrobrás e PPSA, que administra o sistema de partilha de petróleo. “Até dezembro, essas quatro devem estar feitas. E muitas outras. Esse é o ponto de partida. Estamos propondo isso para o Congresso nos próximos 30 a 60 dias”, disse, em evento virtual sobre países emergentes, organizado pela agência Bloomberg.

Guedes acredita que, se houver sucesso na venda dessas quatro empresas, o Brasil pode recuperar dois terços do que foi gasto para combater os efeitos da pandemia de coronavírus, cerca de R$ 800 bilhões, em um ano e meio. “Eu não acredito que seremos bem sucedidos em vender tudo, é só para te dar ideia do montante. Por outro lado, acredito que vamos vender muitas outras companhias. Esse é só o primeiro movimento”, afirmou, se contradizendo.

Segundo ele, os Correios devem ser alvo de grandes companhias de comércio eletrônico, principalmente com o crescimento dessa modalidade da economia.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, que participou do evento da CGU, ressaltou que é preciso bons projetos e editais, elaborados com transparência e que garantam segurança jurídica. "Só conseguimos vender o que o mercado quer comprar. O mercado participará se perceber que há transparência na elaboração de projetos."

Missão de acelerar as privatizações

Em sua fala no encontro, do qual também participaram o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, e o secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, Guedes disse que os dois têm a missão de acelerar o programa de privatizações. "Tem que começar pela Cedae, é um ativo que já poderia ter sido desestatizado", disse, em referência à empresa de saneamento do Rio de Janeiro, que está no programa de recuperação fiscal do governo federal.

Sem citar diretamente, Guedes comentou ainda as eleições dos Estados Unidos e disse que as democracias estão "em transe". "Um candidato questiona se foi eleito, outro diz que tem uma fraude. A inquietação do Ocidente é porque ele não está aguentando a competição [do Oriente]", completou.

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