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Brasil pode vender hoje o petróleo de amanhã

Por Alberto Tamer
Atualização:

O governo já tem um modelo para a exploração do pré-sal. É equilibrado. Parece que acabou a histeria patrioteira de "o petróleo é nosso".. Certamente, vai ser levantada no Congresso Nacional, quando receber a medida provisória. Afinal, demagogia sempre dá voto. Cabe ao governo vetar ideias obtusas, que afastariam recursos do setor privado, nacional e estrangeiro. Aqui, um ponto polêmico muito de agrado do presidente: o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Lula o acusa de ter errado terrivelmente ao abrir o capital da Petrobrás, permitindo que empresas privadas e pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou estrangeiras, pudessem adquirir ações da Petrobrás e receber parte dos lucros da empresa que, argumenta, deveria pertencer apenas ao Estado. É patrimônio nacional. Sim, mas valeria pouco se não fosse descoberto óleo. E haja slogans. VAMOS COM CALMA Senhor presidente, sem o aporte de recursos privados, a Petrobrás não poderia ter investido o que investiu para descobrir o pré-sal. E ainda vai precisar de muitíssimo mais. Sem o dinheiro dos acionistas, a fantástica riqueza do pré-sal, estimada hoje em 50 bilhões de barris, estaria ainda lá, escondida, nas profundezas do mar de Santos, à espera de nós, os bandeirantes retardatários do petróleo. E levaríamos ainda anos para encontrá-la e outros mais para extraí-la e transformá-la, agora sim, em riqueza nacional. SETOR PRIVADO É DEFINITIVO Tomem nota: quase todos esquecem que o governo tem 32,2% do capital da Petrobrás, enquanto o setor privado, empresas e pessoas físicas nacionais, detinham no ano passado 20,7% das ações. E as estrangeiras? Apenas 7,9%. Ou seja,o setor privado representa 28,6% do capital da empresa. Por favor, comparem os números e poderão ver qual foi a sua colaboração nos investimentos que levaram à descoberta do pré-sal. Por isso, vamos com calma ao criticar o que Fernando Henrique fez. Mas a Petrobrás, sozinha, não teria esses recursos? Decididamente, não, senhor presidente. Sua prioridade é a Bacia de Campos, onde a exploração do petróleo em mares menos profundos é menos onerosa e mais rentável. Além disso, o monopólio, de fato, impedia investimentos em refinarias, que custam mais de US$ 5 bilhões, as de porte médio, e US$ 14 bilhões, as maiores - e no gás. Os investimentos totais da Petrobrás para este ano estão estimados em US$ 28,9 bilhões. Pode-se ver que é pouco para a enorme tarefa que tem à frente. Jamais poderia executá-la só com o apoio do Estado. TEM MAIS, TEM MAIS Mas não é só isso, não. Há fatos mais sérios e graves. Mesmo produzindo 1,7 milhão de barris por dia, aproximando-se neste ano de 2 milhões, o Brasil não é autossuficiente! Não é, não. O petróleo de Campos é pesado e, por falta de recursos, a Petrobrás não construiu ou não quis construir refinaria para ele; ela preferiu derivados de petróleo, para abastecer o mercado interno, e exporta seu petróleo. Só que, pela sua baixa qualidade, tem preço menor no mercado internacional. O da Bacia de Santos é leve, mas exige enormes investimentos para ser explorado. A Petrobrás está construindo duas refinarias, com aporte de recursos externos. PETRÓLEO DÁ PREJUÍZO Isso explica porque o déficit da balança comercial do setor é elevado e representa um grande ônus. Ele foi de US$ 695,4 milhões no primeiro trimestre, apesar de termos exportado 78 mil barris a mais de petróleo e derivados. A receita com as exportações de petróleo nacional no primeiro semestre, de US$ 2,8 bilhões, foi 48% (!) menor que no mesmo período do ano passado por causa, principalmente, da queda da cotação internacional, que só agora se recupera. São dados da Agência Nacional de Petróleo. Ou seja, "o Brasil não não é autossuficiente, depende do exterior para abastecer o mercado interno". A Petrobrás não tem recursos suficientes para pesquisar, explorar o pré-sal e construir refinarias. Precisa do governo e mais do setor privado, nacional ou estrangeiro. Em resumo, do seu dinheiro, leitor, que comprou ações seguras e rentáveis da estatal. E não é só seu, não, é também das velhinhas americanas aposentadas, cujo fundo de pensão aplicou suas poupanças em uma estatal brasileira, rentável e superconfiável. Afinal, é uma das maiores do mundo. MAS AINDA HÁ UM RISCO Sim, se decidirem comprar maciçamente mais ações, neste momento em que as reservas do pré-sal aumentam o valor da Petrobrás. E foi em grande parte por isso que, no novo modelo, o governo decidiu dar a Petrobrás R$ 100 bilhões em títulos do Tesouro Nacional, para capitalizá-la e permitir que compre a maior parte das ações que ele, por força de lei, terá de oferecer ao mercado. E se os outros também comprarem mais ações? É isso o que o governo quer, mantendo-se, porém, majoritário. Ninguém vai deixar de adquirir ou vender ações de uma das maiores empresas do mundo, de petróleo ou não, que acaba de descobrir 50 bilhões de barris logo ali, não muito longe das magníficas praias de Santos. Só que ele tem poder de fogo. *Email: at@attgobal.net

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