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Brasil poderá exportar etanol para a Europa

Produção européia não é suficiente para suprir programa de biocombustíveis

Por Agencia Estado
Atualização:

Sem a quantidade suficiente de terra e pressionada a cortar os subsídios, a União Européia (UE) terá de importar pelo menos 6 milhões de toneladas de etanol até 2010 para suprir sua nova estratégia energética e o principal candidato para fornecer o produto é o Brasil. Na segunda-feira, em uma reunião em Bruxelas, as autoridades européias anunciaram o plano de retirada de pelo menos 2 milhões de toneladas de açúcar subsidiado do mercado para 2007. A medida visa evitar excessos de estoques e distorções no setor e, assim, cumprir as decisões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Uma das opções dadas pela UE aos agricultores é transformar o excesso da produção em etanol. Nem assim os europeus estimam que teriam o biocombustível em quantidade suficiente para abastecer seus automóveis. O bloco de 27 países estabeleceu como meta o uso de 5,75% de etanol na frota de carros até 2010. Com a previsão de corte de subsídios no setor do açúcar e sem espaço para expandir a produção, os próprios estudos internos da Comissão Européia obtidos pela Agência Estado apontam para necessidade de importação nos próximos quatro anos. A meta de contar com 5,75% da frota do bloco com etanol em 2010 irá exigir 15 milhões de toneladas de biocombustível. Pelas previsões de Bruxelas, isso significaria a ocupação de 12 milhões de hectares de terra para produzir exclusivamente para o setor energético, quase 10% de toda terra arável na Europa. Pelas estimativas dos técnicos, a produção de etanol na Europa até 2010 poderia ocupar no máximo 7 milhões de hectares, o que seria suficiente para produzir 8,7 milhões de toneladas de biocombustível, 58% do necessário. Os restantes 42% do consumo dos carros europeus teriam de vir de outros produtores, principalmente onde os preços são competitivos. Os especialistas europeus não escondem que uma possibilidade real seria a negociação do fornecimento com o Brasil para suprir esse déficit. Mas se para 2010 há um déficit de etanol, a Europa vive hoje uma crise diante do excesso de açúcar que deverá ser produzido em 2007 e que violaria as regras internacionais. Na segunda, em Bruxelas, ministros de Agricultura dos 27 países da Europa se reuniram para tentar solucionar o problema e a UE estabeleceu novo mecanismo para tentar retirar do mercado cerca de 2 milhões de toneladas do produto até o fim do ano. Pressão A pressão sobre os europeus começou há três anos, quando o Brasil entrou com processo na OMC questionando a legalidade dos subsídios ao açúcar. No ano passado, a entidade acabou condenando a ajuda européia aos produtores e exigiu que os subsídios fossem retirados. Os europeus decidiram estabelecer um programa para retirar do mercado 3,5 milhões de toneladas de açúcar subsidiado ilegalmente como forma de cumprir a determinação da entidade máxima do comércio. Mas 12 meses depois do início do plano, as autoridades ainda não conseguem convencer os produtores a abandonar o setor açucareiro. Os produtores interessados em abandonar o setor e receber compensações têm até meados da semana para se inscreverem. Mas, de uma redução de açúcar estimada em 3,5 milhões toneladas para 2007, a UE vai conseguir cortar apenas 650 mil toneladas. O risco, agora, é de que a Europa acumule excedente de açúcar para este ano, o que violaria a recomendação da OMC. Uma reunião com o Brasil já foi marcada para fevereiro para tratar do assunto. Enquanto isso, a estratégia da Comissão Européia está sendo a de reduzir as cotas de produção para este ano. O objetivo seria retirar pelo menos 12% da produção. Isso poderia ocorrer por meio da transformação do açúcar em etanol já neste ano, opção que a UE faz questão de incentivar.

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