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Brasil precisa de mais pesquisa

Inovação pode, na visão de executivos, ajudar a reverter déficit comercial  

Por Daniela Rocha
Atualização:

SÃO PAULO - A inovação é uma das principais saídas para reverter problemas que o Brasil enfrenta hoje como o crescente déficit na balança comercial e a queda da representatividade da indústria no Produto Interno Bruto (PIB), avaliaram líderes de grandes empresas inovadoras no País no Fórum Estadão de Investimentos em Inovação para a Competitividade. Na visão deles, o setor privado ainda não investe o suficiente em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Na média, a indústria destina menos de 1% de sua receita.

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"Talvez eu seja um pouco provocativo, mas quando digo que a inovação no Brasil é baixa é porque a competição é pequena. Muitas empresas se apoiaram no mercado interno, grande e relativamente fechado para o comércio exterior e, dessa forma, não tiveram a necessidade de inovar, com honrosas exceções", avaliou o copresidente do Conselho de Administração da Natura, Pedro Luiz Passos. Segundo ele, o governo deveria aprimorar a articulação entre as políticas de inovação e as de comércio exterior, além de acelerar tratados internacionais.

Na visão do presidente da Fras-le e membro do comitê executivo das empresas Randon, Daniel Raul Randon, apesar de haver mais recursos públicos disponíveis para financiar a inovação, as pequenas empresas ainda têm dificuldades para acessá-los e necessitam de mais suporte. "É fundamental o apoio via universidades, fundos e investidores anjo."

No evento, o presidente do conselho de Administração da Bematech, Wolney Betiol, defendeu um mecanismo de estímulo ao investimento de risco nos moldes da Lei Rouanet, de incentivo à cultura. Essa seria uma forma de atrair a população para investir em empresas inovadoras com alto potencial, com o benefício de dedução do imposto de renda. "Em vez de investir diretamente na empresa, os recursos iriam para fundos e gestores especializados selecionariam os projetos para aportar os recursos."

Diferencial competitivo. A Natura iniciou suas atividades em 1969 com a inovação muito forte dentro de sua estratégia de negócios. "Investimos na época algo como R$ 10 mil de hoje. Já havia algumas multinacionais atuando como L’Oréal e Avon e inovar era a forma de entrar no mercado. O nome Natura já foi algo diferente em uma época em que não se falava tanto de proteção ao meio ambiente nem do conceito mais amplo de sustentabilidade", explica Pedro Luiz Passos.

A empresa investe atualmente 3% da receita líquida em Pesquisa e Desenvolvimento. O desenvolvimento de produtos ligados à biodiversidade brasileira é o mote da companhia desde 1997. Segundo Passos, uma MP em 2001 tem dificultado as pesquisas ligadas ao patrimônio genético brasileiro e a companhia tem lutado para que haja alteração. "Para pesquisar castanha ou buriti, há necessidade de autorização prévia de um organismo (Conselho de Gestão do Patrimônio Genético). Isso é um problema para a Natura e para outras empresas porque impede que o país que tem a maior biodiversidade do mundo faça pesquisas para desenvolver alimentos, medicamentos e cosméticos", critica.

Fundada em 1972, a Arezzo, fabricante de calçados para público feminino, cresceu ao longo dos anos por ter focado o desenvolvimento de produtos e a gestão de sua marca. "Para se ter uma ideia, em 2012 desenvolvemos 11,5 mil tipos de calçados", afirma o presidente do grupo Arezzo, Alexandre Birman. A Arezzo mantém uma área de 14 mil metros quadrados destinada para a criação de novos modelos. No ano passado, foram 60 mil pares de amostras antes de se chegar aos produtos finais. Além disso, a empresa busca atrair talentos para a área e 7% da folha de pagamentos é destinada à área de P&D.

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Apesar de o setor calçadista ter sofrido com a concorrência chinesa e o governo ter adotado medidas de proteção de mercado, a empresa manteve-se forte. Destino diferente de outros fabricantes, que iniciaram as atividades nas décadas de 70 e 80, e não resistiram. "O problema é que eles produziam para atender a demanda estrangeira. Quando o Brasil ficou caro, eles perderam competitividade porque não investiram na inovação de produtos, apenas na parte industrial", diz Birman.

Na área de tecnologia da informação, a Bematech toma várias iniciativas desde 2001 para driblar o crescimento dos chineses no mercado. A companhia passou a ter operações em Taiwan e na própria China, onde o custo dos componentes é mais baixo. Além disso, a Bematech montou um centro de pesquisa e desenvolvimento nos Estados Unidos, onde os salários de cientistas e técnicos são menores do que os do Brasil e não há problemas ligados à legislação trabalhista, permitindo desmobilizar equipes caso algum projeto não frutifique, sem o risco de passivos. Historicamente, a Bematech destina por ano de 5% a 10% do seu faturamento à inovação.

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