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Brasil preocupa os investidores espanhóis

Por Agencia Estado
Atualização:

Escaldados pela crise argentina, os investidores espanhóis, que destinaram volumosos recursos para a América Latina ao longo da última década, estão muito preocupados com situação no Brasil. Em suas manifestações públicas, eles reafirmam a sua confiança na economia brasileira, mas em conversas reservadas não escondem o temor de que o País poderá enfrentar águas ainda mais turvas nos próximos meses, dependendo do desenrolar da sucessão presidencial. "As declarações públicas aqui na Espanha de confiança na economia brasileira podem representar entre alguns uma sincera convicção, mas temo que a maioria apenas diz isso mais como um desejo a ser realizado", afirmou o analista de um banco com grandes investimentos na região. O ministro Pedro Malan, que esteve entre domingo e ontem em Madri para participar de um seminário financeiro internacional, procurou tranquilizar os investidores. Em seus diversos contatos, Malan ressaltou que a volatilidade nos mercados brasileiros, a qual considera exagerada, está sendo alimentada parcialmente pelo aumento da aversão ao risco nos mercados globais e pode ser superada. Segundo o ministro brasileiro, ainda é muito cedo para se tentar extrair conclusões da sucessão presidencial com base nas atuais pesquisas. O ministro procurou também mostrar que o espaço para mudanças na conduta macroeconômica do País está mais limitado e que há uma maior convergência entre os candidatos ao Palácio do Planalto para a necessidade de se prosseguir com a austeridade fiscal, respeito aos contratos e controle inflacionário. Incerteza até outubro O esforço de Malan pode ter servido para aliviar momentaneamente o clima de nervosimo entre os espanhóis, que acompanham passo a passo a campanha eleitoral no Brasil. Mas não será suficiente para reverter o clima de ansiedade com a sucessão presidencial, que deverá se estender até, pelo menos, outubro. "Se a causa da incerteza geral está sendo causada pelas eleições, acredito que ela somente vai acabar com o final do processo eleitoral", disse à Agência Estado o presidente do banco Caja Madri, Miguel Blesa de la Parra. Notícias consideradas negativas pelo mercado - como a manutenção da folgada vantagem de Lula ou um avanço sustentável de Ciro Gomes na segunda posição nas pesquisas - certamente continuarão tendo impacto negativo nas ações de grupos espanhóis com pesados investimentos no Brasil, como a Telefónica e Banco Santander Central Hispano. Apesar de nervosos, os espanhóis no entanto acreditam que o Brasil corra o risco de seguir os passos da Argentina. "A situação brasileira é totalmente diferente da argentina?, afirmou o presidente da bolsa de Valores de Madri, Antonio Zoido. "Estamos vendo uma turbulência maior do que a prevista na economia brasileira, mas os fundamentos do País continuam positivos." FMI causa irritação A resistência do Fundo Monetário Internacional (FMI) em oferecer ajuda financeira à Argentina, inspirada pelo governo norte-americano, e o temor de que essa política seja estendida ao Brasil no caso de um agravamento da crise no país, também pertuba os espanhóis. Segundo o ex-ministro da Fazenda do México, José Angel Gurría, o primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, na última reunião do G 8 tentou convencer o grupo dos países mais ricos a incluir em seu comunicado conjunto um menção de apoio ao Brasil. O esforço de Aznar, no entanto, foi infrutífero. "A América Latina tem uma importância geopolítica enorme, é uma reserva de estabilidade global e não pode ser ignorada", alertou ontem num discurso o presidente do BBVA, Francisco González. Em meio a esse clima de insatisfação com as autoridades de Washington, o discurso de Malan ontem em Madri - no qual ele criticou a nova política do FMI, defendeu o uso de pacotes de ajuda financeira tradicionais para casos específicos e disse que apoio à Argentina está demorando demais - soou como música para os cerca de trezentos investidores presentes no seminário financeiro.

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