11 de junho de 2015 | 11h03
BRUXELAS - O governo brasileiro superou as reticências da Argentina e esperava acelerar as negociações e sair de Bruxelas com uma data para a troca de ofertas de acesso a mercados, condição essencial para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Mas, ao final da reunião, em Bruxelas, obteve apenas a promessa de que a troca pode acontecer "até o final de 2015" - se tudo correr bem. Ainda assim, a presidente Dilma Rousseff diz que não sai frustrada.
O balde de água fria na ambição brasileira foi dado depois de dois dias em que reuniões foram realizadas entre autoridades de Brasil e União Europeia na capital belga. Durante a viagem de avião a Bélgica, a presidente chegou a propor aos seus ministros que a data de 18 de julho fosse escolhida para a troca de ofertas - uma forma de estabelecer um prazo limite claro. As férias de verão europeu e as pendências nas negociações, no entanto, esfriaram o ímpeto.
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"Queremos ver um acordo de comércio ambicioso, que crie oportunidades nos dois lados do Atlântico", disse Cecilia, ponderando a seguir: "Para obtermos sucesso e trocar nossas ofertas, ainda temos trabalho a fazer. Temos de oferecer um ao outro garantias sobre o nível de ambição das respectivas ofertas".
De acordo com a comissária, "ninguém ainda está preparado para a troca de ofertas". "Por isso vamos aumentar o trabalho técnico. Os dois lados têm questões", justificou. Com o evoluir das discussões, se os dois lados "estiverem confortáveis" e se os processos técnicos "andarem", Cecilia espera "ter a possibilidade de trocar ofertas até o final do ano".
Mauro Vieira informou que reuniões técnicas vão ser realizadas ao longo do segundo semestre. "Os negociadores dos dois países se encontrarão no meio tempo, de hoje até a reunião que teremos para a troca de ofertas, para esclarecer alguns detalhes", explicou o chanceler. "Até lá, cumpriremos todos os rituais necessários nos dois blocos para efetivamente trocarmos nossas ofertas até o último trimestre do ano", completou.
A falta de uma data clara, entretanto, não abalou o otimismo de Dilma Rousseff. Falando aos jornalistas em paralelo à coletiva de seu chanceler, a presidente garantiu que as negociações prosseguirão até a troca de ofertas. "Não saio frustrada. Isso não significa que não terá data", argumentou. "Nós vamos fazer uma proposta de troca de ofertas. Eles têm de olhar as condições deles e fazer a mesma proposta."
De acordo com a presidente, foi importante que o Mercosul sinalize "que vai unido". Dilma não mencionou o nome do país, mas a referência dizia respeito às restrições que até aqui vinham sendo impostas pela Argentina - e que, a julgar pelo discurso da presidente e de ministros brasileiros, estariam superadas.
Dilma defendeu a Argentina, recusando a pergunta sobre se seu governo teria "perdido a paciência" com o país vizinho. "É um grande parceiro nosso. Nós temos de ter toda a consideração com a Argentina", afirmou. "E não existe motivo para a Argentina não ir conosco. Ela tem essa disposição." Segundo a presidente, atribuir à Argentina a lentidão nas discussões para o acordo é "uma conversa que eu diz que a culpa é sempre dos latino-americanos". "Não é trivial entre nenhum país fazer um acordo", argumentou. "Acordos bilaterais podem ser difíceis para qualquer país ou qualquer região."
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