PUBLICIDADE

Brasil será o centro das atenções do mercado global, diz fundo dos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

Os primeiros cem dias de governo Luiz Inácio Lula da Silva vão ser o foco das atenções dos mercados globais na virada do ano, disse o presidente da NWI Management, Hari N. Hariharan, que administra US$ 500 milhões em fundos de mercados emergentes. "Os mercados globais praticamente estão esquecidos do Brasil e estão focados em outros problemas. Mas o Brasil vai estar no palco central das preocupações dos investidores globais, e não apenas dos dedicados a mercados emergentes, em janeiro ou fevereiro", disse Hariharan, em entrevista à Agência Estado. Para ele, os primeiros cem dias do novo governo vão definir se o mercado de dívida dos países emergentes terão um ano bom. "Diria até que Lula será não somente o fator principal que determinará o desempenho do Embi (o chamado risco país, índice calculado pelo JP Morgan que reflete os preços dos títulos da dívida de países emergentes) em 2003, mas também influenciará os mercados globais pois se ele (Lula) for bem sucedido nos primeiros meses de governo, haverá um impacto positivo em termos de confiança para as ações de bancos europeus e norte-americanos", disse o investidor. Para o mercado de dívida de emergentes, o que acontecerá no Brasil, que representa uma grande parcela do índice Embi+, será crucial. Em 2002, o Embi+ deverá fechar o ano com um bom desempenho. De janeiro até sexta-feira, o Embi+ acumulou um retorno positivo de 9,14% e deverá fechar o ano, "salvo alguma catástrofe ou acontecimento muito negativo", com um retorno superior a 10% ou 11%. "Para 2003, o desempenho inteiro do ano será ditado pelo que acontecerá com os 100 primeiros dias de Lula", afirmou. Quatro cenários Hariharan traçou quatro cenários para o mercado de dívida de emergentes em 2003. No cenário positivo, Lula será bem sucedido e não haverá guerra contra o Iraque. "Então teremos mais um ano bom para o Embi, que poderá ter um retorno de 20% no ano", disse. Em outro, Lula não consegue ter sucesso, mas a guerra contra o Iraque também não acontece. "Nesse caso, o preço do petróleo cairá e afetará negativamente países emergentes como Rússia e México, o que prejudicaria o retorno do Embi. Além disso, com Lula não se dando bem, o Brasil afetará o Embi mais ainda, ou seja, também não é um cenário bom para o mercado de dívida de emergentes", afirmou. No terceiro cenário, Lula se dá bem nos primeiros cem dias de governo, mas a guerra contra o Iraque acaba acontecendo. Nesse caso, o petróleo dispara e os mercados globais entram em pânico, o que também não será positivo para o Embi, pois agravará o sentimento de aversão ao risco. E, no quarto cenário, Lula não se dá bem e a guerra contra o Iraque é declarada. "É o cenário mais catastrófico para a nossa classe de ativos", disse. O maior desafio dos primeiros cem dias do governo de Lula será o de baixar os juros para um nível sustentável, disse Hariharan. "As taxas de juros refletidas nos contratos futuros não são sustentáveis em termos de equilíbrio da dinâmica da dívida. Ou elas refletem as expectativas de inflação do mercado ou o nível de confiança que os participantes do mercado têm de comprar qualquer tipo de título ou papel do governo em moeda local. Se for o segundo caso o próximo governo terá problemas", disse. Fatores benéficos No entanto, até o final deste ano, Hariharan acredita que o Brasil irá se beneficiar da combinação de dois fatores, que deverão influenciar o mercado brasileiro no curto prazo. O primeiro é o ambiente externo que, na opinião dele, está favorável. "As bolsas de valores norte-americanas vêm tendo desempenho positivo nos últimos dias, as taxas de juros devem cair na Europa no próximo dia 15 de dezembro, o preço do petróleo continua caindo para um nível de US$ 25 e a ameaça de guerra iminente contra o Iraque está diminuindo, ou seja, não deverá haver conflito militar até o final do ano", afirmou. O outro fator está ligado ao mercado doméstico, referindo-se às notícias sobre a nomeação da equipe de governo de Lula. "Há uma ausência de notícias nesse sentido, então não há um catalisador doméstico, o que sugere que o câmbio poderá oscilar num nível de R$ 3,50 por dólar", disse. Para ele, a inflação mais alta no Brasil está fazendo o Banco Central (BC) tentar agressivamente conter as preocupações em relação à escalada da taxa. "Se no curto prazo a perspectiva é mais benigna, no primeiro trimestre do ano que vem haverá a tensão de o governo Lula decidir entre não querer uma apreciação muito forte do real, pois o governo vem se beneficiando do ajuste das contas externas com a taxa de câmbio atual, e minimizar de forma inteligente as expectativas de inflação mais alta", afirmou. Compromissos de Lula Para ele, Lula somente conseguirá obter um ambiente propício para baixar os juros se perseguir alguns requisitos. O primeiro será um compromisso com a austeridade fiscal, mantendo um superávit primário de 3,75% do PIB ou mais alto. Outra questão é saber como equilibrar uma taxa de câmbio adequada, pois se de um lado há o benefício para a balança comercial, por outro há o impacto das pressões sobre a inflação. "Além disso, há a indicação de nomes fortes para a equipe econômica e também qual o tipo de relacionamento que o novo governo terá com organismos multilaterais, como FMI, Bid e outros", afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.