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Brasil tem a meta de inflação mais elevada, diz Meirelles

Hoje, a meta para a inflação no Brasil é de 4,5% com margem de tolerância de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo, o que quer dizer que se admite uma inflação de até 6,5%

Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil tem a meta de inflação mais elevada entre os países que adotaram esse regime, disse hoje o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Foi uma tentativa de demonstrar aos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) que o Brasil não adotou objetivos exageradamente ambiciosos, ao contrário do que costumam afirmar os críticos da atuação "ortodoxa" do Banco Central. Pelo contrário, no governo Fernando Henrique Cardoso já se trabalhava com metas de 3,25%, bem mais baixas do que os atuais 4,5%. "Não procede a afirmação que essa administração fixou metas excessivamente baixas ou ambiciosas", disse Meirelles. Hoje, a meta para a inflação no Brasil é de 4,5% com margem de tolerância de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo, o que quer dizer que se admite uma inflação de até 6,5%. Essa taxa de 6,5% é a maior entre os países que usam o sistema de metas de inflação. No final deste mês, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai confirmar ou não a meta de inflação para 2007, fixada provisoriamente em 4,5%, e anunciar a meta para 2008. Meirelles não quis fazer comentários sobre qual deverá ser a decisão do CMN. Nos bastidores, comenta-se que a tendência é manter os 4,5%. Reunião surreal Meirelles e seis dos sete diretores do Banco Central passaram cinco horas no Senado, numa reunião classificada como "surreal" pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM). Primeiro, porque o Brasil estrearia na Copa do Mundo dali a algumas horas, e alguns senadores não escondiam sua ansiedade. "Temos um compromisso inadiável às 16 horas", disse o senador Luiz Otávio (PMDB-PA). Segundo, porque a diretoria do BC estava no Senado por insistência do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que queria entender a linha de raciocínio dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela fixação das taxas de juros no País. Ele questionou, por exemplo, se o fato de a economia brasileira crescer menos do que a média mundial não estaria relacionada à política de juros altos praticada no País. Meirelles disse que a economia brasileira crescerá 4% este ano e só perde para a China, por exemplo, porque o país asiático encontra-se em outro estágio de desenvolvimento econômico, semelhante ao que viveu o Brasil nos anos 70. Ele mostrou, ainda, que países com inflação baixa têm taxas de crescimento maiores e insistiu que o Brasil, ao controlar sua inflação, teve maiores taxas de crescimento, aumentou a renda das famílias e o emprego. "O senador Suplicy, que é do governo, critica o Banco Central. Eu, que sou da oposição, tomo a palavra para defendê-lo", comentou Peres. Na mesma linha, o senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) perguntou a Meirelles se o fato de um parlamentar do PT haver convocado tal reunião não obrigaria o BC a ser "mais duro", por gerar inseguranças no mercado financeiro. Tão pequeno era o interesse naquele debate que a reunião começou com quase uma hora de atraso. Henrique Meirelles e os diretores estavam no Senado às 9h30, quando a reunião deveria começar. Naquela hora, nem o senador Suplicy, autor do convite, estava na CAE. Durante toda a reunião, nove senadores passaram pela Comissão, mas não ficaram até o final. O presidente, Luiz Otávio, fez um apelo a Suplicy para que resumisse "só hoje" sua intervenção. O senador paulista é conhecido por suas falas longas e lentas. Cinco horas depois, quando a reunião acabou, havia só dois senadores na CAE: Suplicy, que presidia a mesa, e o senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM). O fundo do auditório estava tomado por aposentados do Banespa, que reclamam índices de correção maiores para seus benefícios. Big brother Suplicy voltou a defender sua proposta de criar uma espécie de "Big Brother" financeiro e transmitir ao vivo as reuniões do Copom, em que são fixadas as taxas de juros para o País. "É uma proposta respeitável, mas tem suas desvantagens", comentou Meirelles. A principal delas seria a geração de turbulências no mercado financeiro durante as discussões. Além disso, acrescentou Meirelles, nenhum país que usa o sistema de metas de inflação faz isso. O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, lembrou que o Brasil é considerado um dos melhores do mundo em termos de transparência sobre as decisões do Banco Central. Só perde para o Reino Unido e para a Austrália. Suplicy queria saber também por que, quando há divergências dentro do Copom, não se divulga quais diretores votaram contra a decisão final. Meirelles explicou que isso não é feito porque o objetivo é buscar decisões de consenso, menos sujeitas a erro, e não estimular posições individualistas. De 47 países que usam o sistema de metas de inflação, 40 fazem como o Brasil.

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