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Brasil tem encomendas de 60 novos navios

Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil tem encomendas potenciais de 60 novos navios nos próximos cinco anos a um custo total de US$ 1,5 bilhão, segundo estudo preparado pelo Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), apresentado ontem ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pelo menos 60% deste total devem corresponder às atividades no setor de petróleo. "A indústria naval brasileira hoje já depende muito da Petrobras e isso parece que deve continuar por alguns anos", comentou o diretor do Estaleiro Ilha S.A (Eisa), Jorge Roberto Gonçalves, responsável pela apresentação. Ele lembrou que o maior entrave hoje para a expansão da navegação brasileira é a dificuldade na diversificação dos produtos que compõem a balança comercial brasileira. "Há um enorme desequilíbrio. Exportamos 295 milhões de toneladas e importamos 90 milhões. Enquanto isso continuar, o frete se manterá alto e haverá maior dificuldade em expandir essa indústria", afirmou. Ainda pelo estudo preparado pelo Sinaval, a navegação brasileira representa hoje apenas 1,9% do total de cargas transportadas no mercado internacional ante 27% na década de 70. "É preciso dobrar a cabotagem existente hoje. Isso traz valor agregado ao produto, reduz o déficit da balança comercial devido a suspensão de pagamento de fretes internacionais a ainda gera empregos no País não somente na construção das embarcações, como também na operação desses navios", disse o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), Hugo Pedro de Figueiredo. Financiamento Para o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, a maior dificuldade de expansão do setor, a abertura de linhas de financiamento, começou a ser revista este ano e deve ser solucionada com a nova Medida Provisória a ser apresentada pelo Ministério dos Transportes nos próximos dias. "O novo governo certamente deu alma ao negócio, acelerou os processos de concessão de financiamentos, que estavam muito lentos e a MP vem coroar tudo isso", comentou em entrevista ontem durante Seminário sobre a Indústria Naval, promovido pelo BNDES. Ele salientou que a nova MP vai não somente viabilizar o crédito para o setor, como também criar padrões para a concessão do crédito. "O estaleiro que quiser o financiamento com recursos do Fundo de Marinha Mercante terá de ser qualificado e ligado a alguma associação de classe que dê a ele o aval de qualidade necessário para a construção de uma obra", disse. Além da qualificação das unidades, a principal vantagem nas mudanças que a MP trará ao setor será a possibilidade de utilizar os recursos do FMM por meio de outro banco, que não só o BNDES. "O novo mecanismo vai possibilitar que o Fundo assuma 50% da garantia do negócio e isso agiliza o processo de concessão do crédito", acredita. Para o presidente do Syndarma, Hugo Pedro de Figueiredo, a nova MP pode dar ao Fundo de Marinha Mercante o seu verdadeiro sentido. "O Fundo hoje é um mecanismo muito mais arrecadatório do que de fomento", afirmou. O FMM é mantido com a cobrança de 2,5% sobre o valor de cada frete. A estimativa é que o fundo tenha em caixa US$ 2 bilhões. O professor Fernando Amorim, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) criticou a forma como a indústria naval está encaminhando as reivindicações para si em busca de maiores incentivos fiscais e mais linhas de crédito que proporcionem sua expansão e modernização. "O setor está se baseando na geração de empregos, mas com o volume que precisa ser investido dava para gerar três vezes mais empregos, se a verba fosse destinada, por exemplo, para a construção civil. Além de mais empregos, teria mais benefício social", argumentou, ressaltando que não é contrário às reivindicações do setor. Segundo ele, o ideal seria que o setor traçasse uma política clara para agregar valor ao produto nacional e reduzir déficit na balança comercial. "Este é o caminho", afirmou. Erro Segundo ele, outro erro da indústria naval é estar se concentrando principalmente nas atividades petrolíferas. "Sabemos que dentro de uma ou duas décadas, as atividades neste setor estarão estagnadas ou pelo menos estabilizadas, gerando apenas investimentos de manutenção e não megainvestimentos como os de hoje", comentou. Ele lembrou o exemplo da Europa, que concentrou esforços da indústria naval para construção de navios destinados a cruzeiros marítimos. "O volume em toneladas produzido na Europa pode ter diminuído, mas apenas um navio destinado a cruzeiros custa em torno de US$ 1,5 bilhão, ante os R$ 100 milhões de um petroleiro", argumentou o professor.

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