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Brasil tem Fluxo de fundos positivos, diz BIS

Por Agencia Estado
Atualização:

O Banco Internacional de Compensações (BIS, na sigla em inglês), em seu relatório sobre fluxos bancários globais refentes ao último trimestre do ano passado, informa que o o fluxo de fundos para o Brasil naquele período, embora modesto, foi positivo pela primeira vez em seis trimestres. Segundo o banco, a repatriação de depósitos de brasileiros no exterior superou em cerca de US$ 200 milhões a diminuição da exposição dos bancos estrangeiros no País. Os brasileiros repatriaram US$ 2,5 bilhões em depósitos, principalmente de bancos nos Estados Unidos e centros offshore. Já os bancos estrangeiros diminuíram em US$ 2,3 bilhões sua exposição no País. Nos dois trimestres anteriores, os depósitos feitos por brasileiros no exterior tinham causado um saldo negativo nos fluxos bancários do Brasil. No entanto, segundo o BIS, esses números não levam em consideração uma operação de transferência de participação acionária realizada naquele período por um banco espanhol no Brasil, de cerca de US$ 6 bilhões. Com essa operação, que é contabilizada oficialmente pelo organismo multilateral, o Brasil foi responsável por quase a metade da saída de recursos da América Latina naquele período, que totalizou US$ 12 bilhões. "Um banco na Espanha transferiu suas participações acionárias num banco no Brasil para uma companhia honding não bancária e, portanto, fora da população auditada pelo BIS", disse o Banco. Por este motivo, o BIS informa que o total de empréstimos dos bancos espanhóis no setor bancário brasileiro caiu de US$ 7,2 bilhões para US$ 410 milhões. O economista do BIS responsável pelo estudo, Patrick McGuire, disse à Agência Estado que não possui maiores detalhes sobre a operação acionária promovida pelo banco espanhol mencionada no relatório. "Os dados me foram repassados pelo Banco Central da Espanha, mas não eram muito detalhados e inclusive não identificavam qual o banco espanhol que realizou a operação", disse McGuire. "Inclusive, diante do volume da operação, fiz questão de confirmar os dados com o banco central da Espanha." Questionado sobre o tema na noite de sexta-feira, Keith Grant, o porta-voz do banco Santander, institução financeira espanhola que tem a maior exposição no mercado brasileiro, não soube precisar se o banco teria sido o autor da operação citada pelo BIS. Ele explicou que "seria possível" pois o banco realizou durante dois anos um processo de reestruturação de suas atividades no País, "unificando o controle dos bancos adquiridos no Brasil no Banco Santander SA". Ele salientou, no entanto, que o Banco Santander SA é uma organização bancária. O BIS, em seu relatório, afirma que a transferência da participação acionária foi feita para uma "holding não-bancária". Brasil e Turquia mais suscetíveis a redução de liquidez para emergentes O BIS afirma que a perspectiva de aumento dos juros nos Estados Unidos antes do esperado causou um amplo movimento de venda de ativos nos mercados financeiros globais em abril e no início de maio. "Os agentes de mercado ao redor do mundo reagiram de uma forma forte e incomum a alguns dados macroeconômicos dos Estados Unidos, levando a uma forte queda de bönus governamentais, dívida emergente e mercados acionários", disse o BIS. O organismo observou, no entanto, que apesar da magnitude do movimento de venda, as condições de mercado continuaram ordenadas. "Houve poucas indicações de que os fortes movimentos nos preços causaram dificuldades financeiras tanto para os emissores como investidores, embora aqueles mais expostos à taxa de juros mais elevadas poderão enfrentar dificuldades nos próximos meses", alertou. O BIS observou que, surpreendentemente, durante o movimento de venda de ativos que varreu os mercados, os spreads sobre a dívida dos mercados emergentes descolaram dos da dívida de corporações que ostentam taxas de risco mais elevadas. Os prêmios de risco dos países emergentes começaram a subir duas semanas antes dos das corporações. Isso sugere, segundo o BIS, que a cautela dos investidores não foi causada apenas pelo fim do apetite dos investidores por ativos que oferecem maior retorno. Um fator que contribuiu para esse fenômeno, segundo o BIS, foi a incerteza sobre as perspectivas de crescimento dos mercados emergentes. "Embora a qualidade do crédito de corporações norte-americanas e européias provavelmente continuará melhorando num ambiente de elevação dos juros, muitos mercados emergentes parecem vulneráveis a taxas mais altas", disse. A perspectiva de preços do petróleo mais altos e um crescimento menos acelerado na China também piorou o cenário para alguns mercados emergentes. "Países com grandes déficits fiscais, como o Brasil e a Turquia, parecem particularmente suscetíveis a qualquer desvio de fluxos de capitais dos mercados emergentes para os mercados maduros", disse o banco. Segundo o BIS, o grande volume de emissões pelos países emergentes no primeiro trimestre de 2004 ressaltou a necessidade de financiamento externo desses mercados. "Muitos mercados emergentes foram capazes de levantar fundos com prazos longos de vencimento com termos favoráveis, melhorando assim o perfil da maturidade de suia dívida", disse. "Entretanto, uma melhora duradoura nas condições de financiamento vai requisitar uma aceleração nas reformas estruturais e macroeconômicas."

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