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Brasil tem oportunidade de substituir China em exportações de calçados para a região

Fabricantes de componentes para a indústria calçadista veem brecha para setor vender mais produtos aos países da América do Sul com prazos de entrega mais rápidos e custo menor de transporte

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Se houvesse um ambiente de negócios mais favorável no País, é possível que estivesse em andamento uma ação mais coordenada no setor de calçados para a nacionalização de insumos e matéria-prima, afirma Luiz Ribas Júnior, da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Calçados (Assintecal).

Ele avalia que isso ocorrerá se, em até dois anos, os preços do frete e a dificuldade de transporte se mantiverem nos níveis atuais. O valor médio para contratar um contêiner hoje, por exemplo, é de US$ 10 mil, quatro vezes mais em relação ao cobrado antes da pandemia. Se permanecer nesses patamares “haverá um processo de mobilização da indústria”, acredita Ribas.

Empresas de componentes para calçados buscam materiais sustentáveis para substituir insumo importado Foto: Felipe Matos/Estadão

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Em sua opinião, porém, os custos devem baixar à medida em que os países forem vacinando suas populações e as restrições para desembarques de navios atracados nos portos reduzam, o que levará também a uma maior disponibilidade de contêineres. “Mas os preços não vão retornar aos níveis anteriores porque as companhias marítimas entenderam que havia espaço para subir o preço médio”, prevê  Ribas.

O setor de componentes para calçados, com 2,4 mil empresas concentradas principalmente em São Paulo (44%) e no Rio Grande do Sul (35%), importa basicamente insumos químicos como resinas de PVC, em sua maioria da China. O repasse de custos para o consumidor é inevitável. No momento, a Assintecal e outras associações discutem com o governo medidas como a redução de tarifas das importações.

Ribas vê no cenário atual uma oportunidade para o Brasil ampliar as exportações de componentes e de calçados para a América do Sul por questões de logística. O País concorre com a China no fornecimento à região, mas com o preço alto do frete e a demora nas entregas, as empresas brasileiras podem ser uma alternativa regional, pois o tempo de entrega será menor, assim como o custo do transporte.

Além disso, o setor trabalha com alternativas locais e sustentáveis ao insumo importado, como fibras da folha de abacaxi, poliamidas biodegradáveis e fios de garrafas pets reciclados.

Já ocorre, desde meados do ano passado, procura maior por produdos brasileiros. Até agosto, as exportações de componentes para calçados para sete países da região aumentaram 44% em relação a igual período de 2020, totalizando US$ 65,4 milhões. 

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Desorganização do setor produtivo

Segundo o vice-presidente de Economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-SP), Eduardo Zaidan, os poucos itens importados pelo setor, como esmalte para cerâmicas e dióxido de titânio para tintas, demoram mais a chegar, mas são de difícil nacionalização.

Ele cita a cerâmica, que pode levar de 90 a 120 dias para ser entregue, quando o normal seria 30 dias. Há dificuldades também com louças, metais sanitários, vidros e madeira. “E os preços subiram uma barbaridade, assim como o dólar.”

Zaidan diz que os atrasos na entrega estão ligados também à desorganização do setor produtivo local. Após quatro anos de crise (de 2017 a 2020), a indústria da construção viu seu Produto Interno Bruto (PIB) reduzir em um terço, impactando investimentos em capacidade produtiva.

Ele cita ainda a demora na reforma tributária. “Que empresário vai fazer altos investimentos sem saber quanto vai pagar de imposto quando maturar esse investimento?”

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