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Brasil terá reação ?exaltada? à rejeição do frango, diz FHC

A decisão dos EUA de impedir o Canadá de importar frango brasileiro, poderá levar o Brasil a formalizar mais uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC)

Por Agencia Estado
Atualização:

A decisão dos Estados Unidos de impedir o Canadá, seu parceiro no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), de importar frango brasileiro, poderá levar o Brasil a formalizar mais uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC), disse hoje o presidente Fernando Henrique Cardoso. Pouco antes de encerrar a viagem de cinco dias à Europa, ele foi indagado sobre qual seria a reação do seu governo a mais esta imposição de barreiras a produtos brasileiros. "Será a mais enérgica. É só ver a reação do ministro Pratini (de Moraes, da Agricultura), que vai dar a média da reação brasileira. Vai ser bastante exaltada", afirmou. Para o presidente, "não tem cabimento" o comportamento dos Estados Unidos e do Canadá, porque o Brasil fez todos os acordos fito-sanitários exigidos, além de ter uma produção de carne de frango de boa qualidade e barata. "Então nós vamos reclamar, se for o caso, na OMC. E nós temos ganho muito dessas matérias. A gente reclama, reclama e acaba ganhando. Então tem que lutar, não tenho dúvida", afirmou o presidente. Fernando Henrique disse que este tipo de comportamento só dificulta a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "A Alca desse jeito não sai, já disse isso em Québec (Canadá). A Alca não pode ser a continuidade do unilateralismo. Então para quê a Alca?", criticou o presidente. Não pode também a Alca, acrescentou Fernando Henrique, ser simplesmente para regular os produtos que "interessam aos outros e não a nós". Ele disse que o Canadá, que devolveu dois contêineres de frango brasileiro nos últimos dias não tem nenhuma razão para fazer isso. "Se houvesse algum motivo fito-sanitário, tudo bem, mas nós abrimos sempre tudo, convidamos todos os órgãos internacionais, os países, os especialistas para analisarem as condições da produção. De modo que isso é inaceitável", afirmou o presidente. Protesto Na terça-feira, o ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, prometeu à direção da Associação Brasileira das Empresas Exportadoras de Frango (Abef), que iria interceder junto ao governo do Canadá para que as autoridades sanitárias daquele país retomem as importações brasileiras de peito de frango. A Abef denunciou ao ministro que os Estados Unidos ameaçaram vetar o ingresso de frango canadense no mercado americano, caso o Canadá mantivesse as importações do produto brasileiro. Como conseqüência dessa pressão, dois navios, com 50 mil toneladas do produto, já teriam retornado aos portos brasileiros. O Canadá mantém uma cota anual de importação de peito de frango de 75 mil toneladas (o equivalente a 7,5% da sua produção local), o que corresponde a US$ 300 milhões a preços atuais. Atualmente essa cota é preenchida integralmente pelos Estados Unidos, mas poderia ser aberta a outros fornecedores, desde que fosse firmado um acordo sanitário para esse fim. O acordo sanitário com o Brasil foi firmado no início de agosto, em Roma, por ocasião da reunião da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO). A alegação dos Estados Unidos para pressionar o Canadá a romper o acordo sanitário com o Brasil, é de que a doença de "new castle" (febre que atinge as aves) ainda não foi erradicada no País. A Abef alega que, embora ainda não exista reconhecimento oficial por parte do Comitê Internacional de Epizootias (OIE) de que a doença foi erradicada - o que deverá ocorrer em cerca de 60 dias -, há mais de cinco anos não existe registro da moléstia nas regiões produtoras de frango no Brasil. Papel das instituições O presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a defender uma mudança no papel das instituições financeiras multilaterais. Ele lembrou que, no processo de formação do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista britânico John Keynes queria fazer do fundo "o banco central dos bancos centrais", para evitar crises de liquidez. "Isso precisa ser feito, e não sou apenas eu que defendo isso; outros também, como o (megainvestidor) George Soros e o economista Joseph Stiglitz", afirmou ele, em Oxford, após receber o título de Doutor em Direito Civil da Universidade de Oxford. Ao ressaltar que sua crítica ao FMI não se refere a casos específicos, Fernando Henrique disse que os problemas financeiros dos países não podem ser atribuídos ao fundo, pois cada governo é responsável pelas suas políticas. "No caso do Brasil, não podemos reclamar. O FMI nos apoiou no momento certo, e nós tomamos as medidas necessárias, o que a Argentina não conseguiu fazer." Segundo o presidente, a economia brasileira não está desorganizada. Ele disse que, durante seu governo, "apesar de todas as dificuldades, a economia brasileira nunca entrou em recessão".

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