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''Brasil vai crescer mais que o mundo''

Segundo Meirelles, em Davos, estimativas apontam que o País vai crescer um ponto acima da média mundial

Por Beatriz Abreu e BRASÍLIA
Atualização:

A deterioração da economia mundial e o agravamento da crise financeira dominaram as discussões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, mas ainda assim o Brasil é apontado como um dos países que se sairão melhor da crise que arrasta o mundo para a recessão. "Em todas as estimativas variam o número, mas tem um fato que não muda: o Brasil vai crescer um ponto porcentual acima da média mundial", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Meirelles, que participou das discussões sobre a crise com lideranças políticas de vários países, enfatiza que a "crise é séria" e concorda que a brusca mudança de cenário é uma preocupação não apenas do Brasil, mas de todas as economias mundiais. Ele insiste, no entanto, que as medidas tomadas ao longo dos últimos anos e a melhora dos fundamentos econômicos garantem "que o Brasil tenha um desempenho melhor que a média mundial". Esse cenário internacional de grande volatilidade e incertezas está abrindo espaço para uma discussão importante e, ao mesmo tempo, complexa. Meirelles citou, por exemplo, que começa a ganhar corpo a discussão sobre a necessidade de os países terem uma cesta de moedas como referência de reserva internacional. "A visão majoritária é de que o euro ou o iene não substituirão o dólar como moeda de reserva em futuro próximo. Estão ocupando espaço, mas não substituindo", disse o presidente do BC. Por outro lado, explicou, "ganha força a ideia de que o mundo não deve depender da moeda de um único país como moeda de reserva internacional". RÁPIDA E VIOLENTA São discussões que afetam as economias mundiais e a dinâmica entre os países que, a cada momento, se deparam com novo efeito devastador da tsunami na qual se transformou a crise financeira. Na economia brasileira, essa mudança de cenário foi "rápida e violenta" e está expressa na ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) e nos indicadores conjunturais, como o da Confederação Nacional da Indústria (CNI): o setor industrial enfrentou no último trimestre do ano passado sua pior crise dos últimos dez anos. As incertezas que prevaleciam em dezembro foram eliminadas pelo documento que o BC divulgou semana passada. Hoje, o governo tem claro que o problema não é mais o de trazer a inflação para meta de 4,5% neste ano. A batalha que se impõe é garantir a atividade econômica. Embora a projeção oficial seja mirar um crescimento de 4%, essa possibilidade é um sonho descolado da realidade. Meirelles não faz uma aposta sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e tampouco estabelece comparações com a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que reviu o crescimento brasileiro em 2009 de 3% para 1,8% do PIB. Em um cenário pessimista, o Ministério da Fazenda aceita a hipótese de um crescimento de 1,5%. Mas acredita que o país se sairá bem melhor. O cenário se deteriora com uma velocidade tão rápida que as medidas são reavaliadas a todo momento, num ritmo frenético de ações do governo. Neste momento, prevalece a avaliação de que as medidas adotadas para liberar o crédito ao comércio exterior não surtiram efeito ante um mercado internacional travado. Amanhã, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio divulga o resultado da balança comercial de janeiro e a possibilidade de déficit não está descartada. A tentativa de monitorar as importações para definir que novas ações podem fortalecer o setor foi um tiro que saiu pela culatra e só gerou mais confusão na equipe econômica. O setor exportador foi um dos que primeiro receberam socorro, mas o fato é que as exportações estão desabando no mundo. O governo já se rendeu a essa realidade, estuda novas medidas de estímulo aos exportadores mas, por enquanto, decidiu ser preventivo e não reforçar os problemas do setor: as empresas terão um prazo maior - 31 de janeiro de 2010 - para comprovar o embarque de mercadorias. Assim, elas agora têm dinheiro disponível, mas não têm mercado. O problema não é só brasileiro. Cingapura, por exemplo, enfrentou a queda de 2,5% do PIB em um único mês, por causa da forte dependência das exportações, segundo dados analisados pelo governo. Esse caso é citado para desmontar avaliações de um movimento errático na definição das medidas para fazer frente à crise. O mundo inteiro está tentando soluções, ponderam fontes do Planalto. O desafio é manter o crescimento da economia e o governo sabe que, para isso, terá de vencer o sentimento de insegurança que contaminou o setor privado. Mais: está percebendo que a questão não será resolvida apenas jogando muito dinheiro na economia ou estimulando setores intensivos em mãos-de-obra. O sentimento é generalizado. O exportador não vende porque ninguém quer comprar. O banco não empresta porque não há tomador de crédito interessado em pagar taxas elevadas e o consumidor se retrai por temer o desemprego.

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