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Brasil vira estrela dos emergentes no pós-guerra

Com papéis que dão retorno em curto prazo, o Brasil torna-se o destaque para investidores.

Por Agencia Estado
Atualização:

Com o rápido fim da guerra no Iraque, aumentou ainda mais o otimismo dos investidores globais com os mercados emergentes, que vêm se valorizando fortemente nos últimos meses. Neste grupo, o Brasil é a principal estrela. "Eu acho que o Brasil é provavelmente o país mais atraente neste mercado, tanto em termos de bônus como de ações", diz Brad Durham, co-fundador e diretor de Pesquisas da EmergingPortfolio.com Fund Research, empresa dos Estados Unidos que monitora o desempenho de mais de 3 mil fundos internacionais de mercados emergentes, com um total de ativos de US$ 700 bilhões. A volta dos capitais para os emergentes, que está sendo mais forte no caso dos latino-americanos do que nos asiáticos, pode ajudar a melhorar o desempenho econômico destes países. No momento, os recursos que fluem para países como o Brasil ainda são direcionados em grande parte para ganhos em aplicações de renda fixa de curto prazo. Se a recuperação e as boas notícias continuarem, é provável que os prazos se dilatem. Mais complicada é a volta dos investimentos diretos, que se retraíram fortemente por causa do fraco desempenho e das incertezas que pairam nas economias ricas, o que afeta as decisões das grandes corporações internacionais. Chamariz Ainda assim, a melhora econômica proporcionada pela volta do financiamento externo, no caso do Brasil e de outros países latino-americanos, pode, em um momento posterior, ser o chamariz dos investimentos diretos - eles não costumam faltar para países com forte desempenho, como prova a China. Segundo dados da Merrill Lynch (corretora americana e banco de investimentos), os títulos de renda fixa dos mercados emergentes tiveram uma valorização de 22% desde o início de outubro do ano passado. O Brasil, naturalmente, contribuiu muito para este desempenho, com uma valorização de 67% do C-Bond, o papel da dívida externa brasileira mais negociado, naquele mesmo período. Nos últimos 12 meses, a valorização média dos títulos emergentes de renda fixa foi por volta de 17%, bem acima de qualquer categoria de papéis de alta rentabilidade (e risco) de empresas americanas, que geralmente competem com os países emergentes pelo dinheiro dos investidores em busca de maior rentabilidade. Das várias categorias de títulos americanos de alta rentabilidade, a que rendeu mais bateu em 13% nos últimos 12 meses. Diversas outras ficaram muito abaixo disso. Uma virada importante no comportamento dos investidores internacionais, em relação aos mercados emergentes, foi detectada recentemente pela equipe de pesquisa da Merrill Lynch. No primeiro trimestre de 2003, a aversão global ao risco (que é medida por um índice da instituição) aumentou, no exato momento em que o risco dos países emergentes caía. Fora de padrão Este fenômeno rompeu um padrão estabelecido nos anos 90, de piora dos emergentes quando crescia a aversão global ao risco. O risco médio dos países emergentes é calculado pelo Embi+, índice criado pelo banco americano JP Morgan. Quanto maior o risco, maior o Embi+. O gráfico mostra que, nas últimas semanas, a aversão ao risco voltou a cair, e o risco dos países emergentes seguiu a trajetória de queda. Aquela discrepância entre o aumento da aversão global ao risco e a melhora dos países emergentes foi extremamente forte no caso brasileiro - o que pode até explicar parte do fenômeno, já que o Brasil tem um grande peso neste grupo de economias, em termos dos volumes e da liquidez dos títulos externos. "Mesmo enquanto havia a percepção de que a guerra não ia ser fácil, o Brasil manteve-se firme", diz Nuno Câmara, economista-sênior para a América Latina, em Nova York, do banco de investimentos Dresdner Kleinwort Wasserstein (DKW). No caso do Brasil, a reação positiva dos investidores nos últimos meses já é bem conhecida. O pânico de 2002 foi causado pelo temor de que Luiz Inácio Lula da Silva, o favorito, e posteriomente vencedor da eleição presidencial, fosse praticar uma política fiscal e monetária irresponsável, na visão do mercado internacional. Quando essa percepção foi totalmente desmentida pelos fatos, os investidores correram para os escorraçados papéis brasileiros, que se tornaram uma mina de enormes ganhos no curto prazo. Problemas Ricardo Amorim, chefe de Pesquisa para a América Latina da consultoria americana IDEAglobal, explica que a alta dos ativos dos mercados emergentes está ligada aos juros muito baixos das aplicações nas economias desenvolvidas e à perspectiva negativa em relação aos mercados acionários globais, por causa da guerra. No curtíssimo prazo, ele prevê até uma redução dos fluxos para os emergentes, já que o fim da guerra provocou uma queda global das incertezas, e ajudou os mercados acionários dos países ricos. Em pouco tempo, porém, ele acha que os problemas crônicos do Japão e da Europa vão voltar a pesar, tirando o fôlego das bolsas do mundo desenvolvido, e direcionando de novo os capitais para os emergentes. Amorim observa ainda que a atual situação global, em que há liquidez financeira mas as economias ricas estão em ritmo lento, tem levado a uma melhora relativa da América Latina em relação aos países asiáticos (embora em termos absolutos estes últimos ainda estejam crescendo mais). "Os países latino-americanos dependem mais de fluxos de capitais, e os asiáticos do comércio, que está retraído por causa do baixo crescimento no mundo rico", ele explica.

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