
19 de agosto de 2015 | 02h03
RIO - Analistas concordam que, em meio à recessão, a restrição ao crédito agrava o problema das empresas. Mas a forma de enfrentar a questão é motivo de divergência. Economistas ouvidos pelo 'Estado' fizeram análises distintas sobre a estratégia do governo de orientar os bancos públicos a socorrer empresas de diversos setores com empréstimos em melhores condições que as de mercado.
Os dados mais recentes do Banco Central (BC) apontam alta de apenas 0,6% nas concessões totais de crédito para pessoas jurídicas nos 12 meses até junho - no acumulado do ano, houve queda de 0,4%.
Sem controle. Na visão do economista Júlio Gomes de Almeida, professor do Instituto de Economia da Unicamp, "estamos perdendo o controle do tamanho da recessão". "Se o crédito for embora, a coisa fica muito difícil."
Almeida diz que oferecer linhas de crédito especiais para setores que tem maior peso na economia é positivo, mesmo que não resolva o problema. Em sua visão, o crédito apenas "dá fôlego" às empresas.
O modelo das linhas anunciadas pela Caixa ontem para o setor automotivo, que usam como garantia contratos de fornecimento com as montadoras, no caso do setor de autopeças, é positivo porque permite oferecer juros menores com menos subsídio, segundo Almeida. Na mesma linha, vai a linha de capital de giro do BNDES, o Progeren, que teve as condições ampliadas semana passada, com orçamento de R$ 7,7 bilhões até o fim do ano.
Conta para a sociedade. Troster discorda. "O governo poderia até fazer incentivos setoriais, mas, neste momento de crise de crédito e inadimplência, essas medidas só vão aliviar algumas empresas à custa de toda a sociedade", afirmou Troster, que defende uma reforma do crédito, começando pela liberação dos compulsórios, os recursos dos bancos depositados no BC, com baixíssimo rendimento e que não podem ser emprestados.
Segundo Troster, são R$ 360 bilhões parados e liberar uma parte dos recursos dinamizaria o crédito para todas empresas. Outras medidas da reforma seriam mudar as exigências do BC em relação a provisionamentos para perdas (valores que os bancos separam no balanço para arcar com calotes), montar um cadastro de inadimplência "interativo" (usado por todos os bancos e com notas para cada tomador de crédito, empresa ou pessoa física, que funcionaria como os bônus do setor de seguros) e mudar o sistema de tributos.
Almeida e Troster discordam também sobre os impactos nas contas públicas. Para o professor da Unicamp, o custo em termos de recursos públicos é pequeno porque há boas garantias, no modelo usado no setor automotivo. Já Troster alerta para o risco de se "colocar dinheiro bom sobre dinheiro ruim", pois em vários dos setores citados, a demanda na ponta está fraca, como no caso das vendas de automóveis, em queda desde o início do ano.
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