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Brasil zera imposto de importação de trigo extra Mercosul

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

O governo brasileiro decidiu reduzir para zero a alíquota de importação que incide sobre o trigo de países que não fazem parte do Mercosul, atendendo pedido dos processadores locais, informou a Câmara de Comércio Exterior (Camex) nesta quarta-feira. A decisão da Camex, órgão formado por sete ministros, foi publicada no Diário Oficial desta quarta-feira e vale para uma cota de 1 milhão de toneladas de trigo, até 30 de junho de 2008, quando provavelmente haverá uma nova avaliação da lista de exceções do Mercosul. De acordo com a assessoria de imprensa da Camex, a inclusão temporária do trigo na lista de exceções do Mercosul permitiu que a taxa (TEC, Tarifa Externa Comum) fosse reduzida unilateralmente pelo governo brasileiro, sem a necessidade de autorização de países do bloco como a Argentina, tradicional fornecedor do cereal ao Brasil. A redução da tarifa foi efetivada porque os ministros consideraram os registros de exportação liberados pela Argentina até o momento insuficientes para atender à demanda brasileira. "O Brasil avaliou que o trigo liberado pela Argentina era insuficiente. O motivo é para não faltar trigo no mercado interno", informou a assessoria da Camex. Na semana passada, os ministros anunciaram que iriam avaliar uma decisão da Argentina que liberou exportações adicionais de 2 milhões de toneladas, no mesmo dia do encontro da Camex. Com isso, a tarifa não foi alterada imediatamente. A cota de 1 milhão de toneladas equivale a cerca de 10 por cento do consumo anual de trigo do Brasil. Antes de a Argentina liberar registros para mais 2 milhões de toneladas, o país vizinho havia autorizado exportações de 7 milhões de toneladas, das quais o Brasil conseguiu comprar cerca de 3 milhões de toneladas. Os registros de exportação de trigo na Argentina ficaram suspensos até pouco antes da reunião da Camex, no dia 29 de janeiro. E, segundo informações da indústria, o volume de 2 milhões de toneladas liberado pelos argentinos naquele dia não atenderia às necessidades brasileiras, uma vez que outros países também buscarão o produto argentino. Toda a lista de exceção da TEC foi publicada apenas nesta quarta-feira. A publicação não ocorreu antes em função do feriado de Carnaval, segundo a Camex. INDÚSTRIA QUER MAIS O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Luiz Martins, considerou importante a decisão da Camex, mas observou que a cota sem tarifa é insuficiente para atender as necessidades. "Pelo menos saiu 1 milhão, mas não satisfaz, precisamos de 4 milhões de toneladas. Esses 2 milhões de toneladas da Argentina eu não sei se vêm para o Brasil", afirmou Martins, por telefone. Segundo Martins, uma cota maior para compras sem tarifa fora do Mercosul deveria ter sido liberada agora, pois, se o governo esperar para autorizar um volume adicional no final de junho, isso poderia pressionar os preços na entrada da safra nacional, que começa a ser colhida em meados de setembro. O analista de trigo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Alex Chaves, afirmou que provavelmente o volume de trigo comprado dentro da cota virá dos Estados Unidos ou do Canadá, países que tradicionalmente suprem a diferença entre o que o Brasil precisa comprar fora do Mercosul. Em 2007, o Brasil importou 6,6 milhões de toneladas, sendo 5,6 milhões de toneladas da Argentina. O volume importado do país vizinho só não foi maior devido a restrições do governo argentino, que busca preservar a oferta no mercado interno. Dos EUA e do Canadá, mesmo pagando a tarifa de 10 por cento, o Brasil importou aproximadamente 700 mil toneladas no ano passado. Para comprar trigo de países da região do Mar Negro, o que seria uma alternativa ao trigo norte-americano ou canadense dentro da cota sem tarifa, o frete mais caro praticamente inviabiliza os negócios, segundo Chavez. (Edição de Marcelo Teixeira)

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