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Brasileiro e mexicano disputam final na OMC

Escolha do diretor-geral chega à última etapa com o pior cenário, segundo o Itamaraty: Azevêdo contra Hermínio Blanco

Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

Pela primeira vez, um brasileiro vai à final na disputa pelo cargo de diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas o escolhido - Roberto Azevêdo - terá de enfrentar o candidato apoiado pelos países ricos, o mexicano Hermínio Blanco. Países desenvolvidos tentarão barrar a eleição de um brasileiro apoiando um nome latino-americano, mas com uma visão mais próxima de seus interesses. A final contra o México era tudo o que o Itamaraty não queria.Seja quem for o vencedor, a realidade é que, pela primeira vez na história, uma das três organizações que formam o pilar da gestão da economia mundial - FMI, Banco Mundial e OMC - será dirigida por um latino-americano, um pleito que a região defendia há décadas.Mas Azevêdo e Blanco representam visões e alianças diferentes, tanto da região quanto sobre o papel do comércio no desenvolvimento. A disputa, agora, não será apenas entre dois nomes. Mas entre duas visões de comércio exterior e, de quebra, pela hegemonia comercial na América Latina.O processo começou no início do ano, com nove candidatos. Até ontem, cinco ainda estavam no páreo. Mas um neozelandês, um sul-coreano e uma indonésia acabaram eliminados ontem por terem o menor número de votos. O eleito será anunciado em meados de maio e substituirá o francês Pascal Lamy no segundo semestre.Apesar de a final ser disputada entre dois latino-americanos, ela reflete uma vez mais uma disputa entre países ricos e emergentes. O mexicano, preferido dos países ricos, não hesita em criticar a política comercial brasileira, com o objetivo claro de manchar a candidatura de Azevêdo e mostrar que o brasileiro não seria uma opção para a OMC, que precisa fechar a Rodada Doha. Já Azevêdo vem adotando um discurso diferente. Insiste que, se eleito, não adotará a visão do governo brasileiro e será um "diretor-geral de todos". Ele percorreu mais de 80 países em busca de votos e representa, para muitos, a linha de pensamento que aponta o comércio como vetor ao desenvolvimento, com espaço para que governos adotem estratégias de política industrial. Ou seja, uma certa cautela na liberalização comercial. Com esse discurso, tem o apoio dos Brics e de dezenas de países emergentes.Blanco é o preferido tanto dos EUA quanto de parte substancial da União Europeia. Nesta semana, o bloco europeu indicou que apoiaria os dois nomes latino-americanos. No bloco, há quem prefira Azevêdo, como Portugal. Mas, ainda assim, o Estado apurou que o primeiro na lista da Europa foi Blanco.Diplomatas brasileiros admitiram que a final contra o mexicano era o pior cenário esperado. Isso porque, além do apoio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o México faz parte de alianças do Pacífico, como a Apec. Agora, o temor é de que o México convença toda a região a votar em Blanco.

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