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‘Brasileiro precisa superar a inflação’, diz ex-presidente da CVM

Para economista, País ainda é muito fechado e precisa desenvolver cultura de investir no mercado de ações

Por Douglas Gavras
Atualização:

Para o primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o economista Roberto Teixeira da Costa, os brasileiros ainda precisam superar a memória do tempo de inflação descontrolada das décadas de 1980 e 1990 e começar a se planejar para investir no médio e longo prazos.

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Ele, que lança nesta quarta-feira, 14, o livro Valeu a pena – Mercado de Capitais: Passado, Presente e Futuro, pela editora da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz acreditar que o mercado de capitais no Brasil tem evoluído a passos largos, mas ainda há um longo caminho pela frente.

O lançamento da obra será seguido por uma palestra, às 19h, entre o autor e o superintendente-geral do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), Carlos Rocca, no teatro da entidade (Rua Tabapuã, 445, Itaim-Bibi, São Paulo). A seguir, trechos da entrevista.

Roberto Teixeira da Costa, primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), lança o livroValeu a pena – Mercado de Capitais: Passado, Presente e Futuro. Foto: Werther Santana / Estadão

Quais as principais diferenças dos primeiros anos do mercado de ações para a Bolsa de hoje?

Os últimos dez anos foram de profundas mudanças, afetaram muito o mercado. Quando eu comecei, em 1958, havia pouca ou nenhuma interação com o exterior e a informação disponível era próxima de zero. Antes, o investidor comprava ações da Willys Overland e tinha direito a comprar um carro deles com desconto. Era preciso construir um conceito de participação acionária.

O sr. foi presidente da CVM durante a década de 1970. Como foi organizar o mercado de capitais em um País ainda fechado?

Era mais difícil na época, mas o Brasil ainda é fechado. Meu próximo projeto é pesquisar a internacionalização das empresas brasileiras, é investigar junto a empresários os motivos pelos quais o País ainda tem uma cabeça tão fechada.

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Foi difícil criar no País uma cultura de investimento em ações?

Culturalmente, sim. O brasileiro se acostumou por muito anos a conviver com uma inflação altíssima, nas décadas de 1980 e 1990. A inflação deseducava, ela desestimulava o investimento em um prazo mais longo, isso teve um efeito perverso e devastador. O brasileiro acabou herdando uma falta de visão, que, de certa forma, continua nos atormentando.

Quais foram e são os maiores empecilhos para o crescimento desse mercado no Brasil?

A taxa de juros do Brasil sempre foi um inimigo mortal para a consolidação do mercado de capitais no Brasil. Era claro que o mercado de renda variável de médio e no longo prazos não conseguiria concorrer com a Selic, os juros básicos. De um ano para cá, foi possível observar uma mudança sensível, com a Selic agora em um patamar mais baixo.

O que ainda é preciso fazer para que a CVM se aprimore?

É preciso solidificar o tripé regulação, desenvolvimento de mercado e educação do investidor. Há uma ampla discussão sobre a necessidade de regulamentar mais o mercado, mas não adianta ter uma legislação específica, as pessoas precisam ser educadas para a autorregulação. Um dos grandes problemas hoje é que o brasileiro acha que o Estado resolve tudo. A CVM não pode substituir o investidor, a decisão de investir tem de ser dele.

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