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Brasileiros escondem R$ 500.000.000,00 em moedas

Por Agencia Estado
Atualização:

O brasileiro mantém guardado em cofrinhos, no bolso ou num canto qualquer da casa mais da metade das moedas de real cunhadas desde 1994. Foram 46 moedas para cada brasileiro, num total de quase 8 bilhões de moedinhas, que valem R$ 1 bilhão. Destas, mais de 20 moedas por habitante estão fora de circulação (cerca de R$ 500 milhões), emperrando o comércio e tornando crônica a falta de troco. Uma escassez que leva diariamente bancos e grandes empresas a baterem na porta do diretor do Meio Circulante do Banco Central do Brasil (BC), José dos Santos Barbosa, pedindo uma solução, ou seja, mais moedas. Barbosa disse ao Estado que, este ano, vai encomendar à Casa da Moeda 1,5 bilhão de novas moedinhas, de diferentes valores, mas pede, encarecidamente, aos brasileiros que "colaborem e coloquem as suas moedas para circular". Para o apelo não cair no vazio, o Banco Central já encomendou à agência de publicidade Giovanni, FCB campanha para estimular a circulação das moedas, especialmente as de R$ 0,01 e R$ 0,05. O contador Barbosa, diretor do Meio Circulante desde março de 1997 e que exerce uma das funções mais técnicas da instituição, também não esconde que ficou surpreso com pesquisa realizada pela Giovanni, FCB dando conta de que o brasileiro não gosta de usar moedas e só dá valor às de maior valor, ou seja, as de R$ 1,00. Essa pesquisa revela, por exemplo, que 60% dos homens não gostam de usar moedas, porcentual que cai para 50% no caso das mulheres. A principal reclamação de homens (58%) e de mulheres (60%) é a dificuldade de transportá-las. Tanto que 44% das mulheres alegam ter dificuldades de encontrá-las na bolsa e 24% dizem que são fáceis de perder. As que mais se perdem ou ficam num canto qualquer da casa são as de R$ 0,01 e R$ 0,05. Pior para o BC, pois cada moedinha de R$ 0,01 custa aos cofres públicos R$ 0,06 - seis vezes o seu valor de face. As de R$ 0,05 custam R$ 0,07, e a relação só inverte a partir das moedinhas de R$ 0,10, que custam ao BC R$ 0,082 cada uma. O comerciante Geraldo Kuchkarian, que tem uma loja de R$ 1,99 na rua Barão de Itapetininga, próximo à Praça da República, luta para conseguir no banco, todos os dias, pelo menos R$ 10 em moedinhas de R$ 0,01. "Não gosto de deixar o cliente sem troco. Se ele compra algum produto de R$ 1,99 é porque quer pagar este valor e não R$ 2,00." Ele diz ter dificuldades para obter moedinhas de um centavo, mas afirma que, "se arrendondar o preço, descaracterizaria o nome da loja." É, sem dúvida, um caso raro. A estagiária da Telefônica Fabíola Bram, de 28 anos, faz questão do troco. "Eu sempre carrego meu moedeiro. Se não tenho trocado, as pessoas arredondam para cima. Como isso me irrita, muitas vezes pago com cartão de débito." No açougue O gerente do açougue Frigorífico Cantareira, na região central da capital, Edjango Duarte dos Santos, não se aflige com a falta de moedas de R$ 0,01 e R$ 0,05, embora exibisse, na última sexta-feira, preços como um quilo de orelha de porco salgada a R$ 1,99, bacon extra a R$ 4,98 e contrafilé a R$ 7,98. "Como faltam moedas, a regra é aumentar um pouquinho no peso, o que deixa o freguês contente", diz, convencido de que essa transformação de moedas de R$ 0,01 em pequenos nacos de carne é a melhor forma de driblar a falta de moedas. Não seria mais fácil arredondar os valores nas placas? "Mas aí a gente não atrairia o consumidor", responde, reforçando essa estratégia de marketing que deixa o consumidor com a impressão de estar pagando menos. E não tem aqueles que reclamam? "Sempre tem, mas sempre se consegue dar um jeito porque alguns pagam as compras em moedas." A ambulante Josicleuma de Deus Silva, 23 anos, casada, paga o que compra neste açougue com moedas. Ela vende café, chocolate e balas na região da Cantareira, e vai juntando os R$ 0,30 de um cafezinho, até que faz suas compras na própria região. "Eu sempre tenho muitas moedas, mas volto para casa com poucas. Só separo as de R$ 0,10 para ter troco, senão perco vendas." A imigrante japonesa Isabel Inokoko, de 82 anos, sempre compra carnes no Mercado Municipal da Cantareira, mas faz questão de receber das mãos do açougueiro Benedito Bráulio Sobrinho, de 42 anos, o troco de R$ 0,01. "Eu venho aqui porque é mais barato e isso faz diferença no bolso", garante ela. Barbosa, diretor do BC, diz estar atento ao problema, mas garante que sem um esforço da população que "anda entesourando moedas em casa, fica difícil resolver o problema". Para Barbosa, os anos a fio de inflação alta desestimularam o uso das moedinhas. "Mas este é um importante valor de troca e de troco, em todo o mundo. A diferença é que em alguns países, como o vizinho México, existem cem moedas por habitantes, valor que é multiplicado por dez quando se trata do Canadá e da França. Espero que possamos chegar lá, com moedas que não percam o valor ao longo dos anos, o que estimula a circulação." Palavra de quem tem alma de Tio Patinhas e cuida do dinheiro que circula no País. Traga moedas. Ganhe um brinde A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) inaugura este mês, na estação Santana, na zona norte da Capital, o seu mais novo posto de troca de moedas. O primeiro posto, na estação Sé, e o segundo, em Itaquera, já não são mais suficientes para suprir as bilheterias do Metrô de moedas. Resultado: filas e filas nos horários de pico nas bilheterias. Nem adianta ao passageiro recorrer a uma das 228 máquinas de vendas diretas instaladas nas 52 estações. A maioria delas pára por falta de moedas. Apesar da cena que já virou rotina, a das filas, o Metrô usa diariamente R$ 40 mil em moedas. A maioria é de R$ 0,05 e R$ 0,10, segundo o chefe do Departamento de Arrecadação do Metrô-SP, Nelson Medeiros. A metade desse volume, diz Medeiros, vem das moedas deixadas pelos 2,6 milhões de passageiros diários do Metrô - a maioria, porém, não chega a passar pelas bilheterias porque usa vales ou bilhetes especiais - e daqueles que trocam esses valores por cédulas nos postos da Sé e Itaquera. Medeiros disse que, para estimular essas trocas, desde 2000 o Metrô tem oferecido brindes. Quem leva, por exemplo, 50 moedas, não importa o valor de face delas, ganha uma caneta. Se levar de 50 a 100 moedas, leva a caneta mais um chaveiro, e assim sucessivamente. Outro fator de estímulo, diz Medeiros, são os caixas expressos, para quem tem o dinheiro trocado da passagem, hoje de R$ 1,90 o bilhete unitário, de R$ 3,40 o duplo e de R$ 15,50 o de dez viagens. Medeiros diz, ainda, que o Metrô tem procurado, por meio de avisos nos alto-falantes das estações, estimular o uso de moedas, que é mais escasso especialmente nas estações mais freqüentadas pelos passageiros das classes A e B, como a Linha Verde, que corta a Avenida Paulista.

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