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Bric quer levar ao G-20 alternativas ao dólar

Para Lula, modelo adotado por Brasil e Argentina é uma opção

Por Andrei Netto
Atualização:

Os presidentes de bancos centrais e os ministros da Economia de Brasil, Rússia, Índia e China - os países do Bric - vão estudar ao longo dos próximos meses propostas para a substituição do dólar como moeda de referência para transações comerciais internacionais. A revelação foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Astana, no Casaquistão. De acordo com o brasileiro, modelo usado entre Brasil e Argentina pode ser início, mas debates devem levar anos. Conforme Lula, as autoridades monetárias e os ministros da área econômica dos países-membros do grupo se encontrarão antes de setembro - quando acontecerá a segunda reunião do ano do G-20, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. "O Guido (Mantega, ministro da Fazenda) e o (presidente do BC, Henrique) Meirelles já estão autorizados a conversar com o presidente do BC da China, com o ministro da Economia da China, com o BC da Rússia, com o ministro da Rússia, para ver se há entendimento suficiente para começarmos a fazer experiências das trocas nas moedas de cada país, sem precisar comprar dólar para fazer nosso fluxo comercial", afirmou Lula. "Este é um passo extremamente importante", disse. De acordo com o presidente, há países propondo a criação de uma nova moeda internacional, enquanto outros propõem o uso de uma cesta de moedas como referência nas transações de comércio. Lula, contudo, não explicitou quais seriam esses países. Entre os modelos analisados, está o método adotado por Brasil e Argentina e baseado na abolição do dólar e na realização de negócios em reais e pesos. "Pode ser um bom começo", disse o presidente. "O que decidimos é que um conjunto de especialistas, junto com presidentes de bancos centrais e ministros da Economia, apresentará sugestões. É um passo extremamente importante." Na terça-feira, a declaração final da Cúpula dos Bric não fez referências enfáticas à medida. Nos bastidores, uma das razões evocadas para o silêncio sobre a questão monetária teria sido o bloqueio da China - país que detém mais de US$ 2 trilhões em reservas na moeda norte-americana. Ontem, Lula desmentiu a informação. "Não houve veto. Essa discussão não estava assegurada. E não é uma discussão que acontece no dia seguinte. Leva anos", argumentou. DISCUSSÃO SUPERFICIAL Por ser incipiente, a discussão ainda é superficial, disse Lula, e não incluiu propostas de investimentos em títulos de outros países do grupo. "Nós não discutimos isso. Apenas começamos a fazer um debate sobre a necessidade de pensar em uma forma de os países não ficarem dependentes apenas de uma moeda." Lula definiu a reunião dos Bric como "histórica" e reiterou que o grupo coordenará esforços pela reforma do sistema financeiro, em especial na regulamentação e no redesenho de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Para o presidente, do modo como estão organizados hoje, o Banco Mundial pertence aos EUA e o FMI, à Europa. "Nós queremos contribuir para fortalecer esses organismos internacionais, mas ao mesmo tempo queremos democratizá-los, para que outros países participem em igualdade de condições." Apesar do entusiasmo com os parceiros emergentes, o presidente considera o G-20 e o G-14 - soma dos sete países mais ricos do mundo (G-7), mais Rússia, Brasil, China, Índia, Egito, África do Sul e México - como os fóruns adequados para propor mudanças no sistema financeiro. "Podem ficar certos de que temos muitas discussões pela frente na Itália, com a reunião do G-14, e em setembro na reunião do G20." Ainda ontem, no Casaquistão, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou que a próxima cúpula dos quatro grandes emergentes acontecerá em 2010, no Brasil. A cidade ainda não foi decidida, mas a tendência é de que Brasília seja escolhida.

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