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Brics assinam acordo de investimento e comércio em moedas locais

Medida adotada em cúpula na Índia busca aumentar cooperação entre bancos de desenvolvimento e elevar comércio entre países do bloco.

Por Iracema Sodré
Atualização:

Os presidentes de bancos de desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) assinaram nesta quinta-feira, em Nova Déli, na Índia, acordos que vão permitir o financiamento de comércio e investimento em moeda local, um assunto que vem sendo discutido desde a primeira reunião do grupo. O objetivo da medida é aumentar a cooperação entre os bancos de desenvolvimento dos Brics e elevar o comércio entre os países do bloco, já que facilita a obtenção de financiamento com instituições de fomento do país onde o investimento será realizado, e também evita a vinculação do negócio ao dólar, e portanto, a exposição à flutuação cambial. Segundo a presidente Dilma Rousseff, a medida será um dos pilares do dinamismo das economias do grupo. "Os Brics continuam sendo um elemento dinâmico da economia global e vão responder por uma parcela significativa do comércio. A notável expansão dos últimos anos do comércio intra Brics evidencia também o potencial das nossas relações. Nós passamos de US$ 27 bilhões em 2002 para estimados US$ 250 bilhões em 2011", disse a presidente. Ela também afirmou que a definição de um grupo de trabalho para criar um banco de desenvolvimento dos Brics - que atue especialmente em projetos de infraestrutura, inovação, e ciência e tecnologia - sinaliza a disposição dos países de trabalhar em projetos conjuntos. A presidente voltou a criticar as políticas adotadas pelo Banco Central Europeu e pelos Estados Unidos para conter a crise. "Medidas exclusivas de política monetária não são suficientes para a superação dos atuais problemas da economia mundial. (...) Ao mesmo tempo, elas introduzem grave desequilíbrio cambial, por meio da desvalorização artifical da moeda e pela expansão da política monetária", disse. A presidente Dilma defende que a depreciação do dólar e do euro decorrente destas medidas traz vantagens comerciais para os países desenvolvidos, mas diminui a competitividade dos produtos de outros países, como o Brasil. Reformas Na declaração conjunta divulgada ao fim da Cúpula, os Brics voltaram a defender uma reforma mais efetiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, aumentando a representatividade dos países emergentes. Como era esperado, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não apoiaram nenhum candidato à presidência do Banco Mundial, mas voltaram a defender que a escolha seja feita por mérito e não por critérios geográficos, já que, tradicionalmente, a liderança da instituição fica nas mãos de americanos, enquanto o FMI é presidido por um europeu. Segundo uma das principais negociadoras brasileiras nos Brics, a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, o fato de o presidente americano, Barack Obama, ter apoiado a candidatura de Jim Yong Kim, que nasceu na Coreia do Sul e tem experiência no setor de desenvolvimento, sinaliza que as reivindicações do grupo estão, de certa forma, sendo ouvidas. "Mostra uma disposição por parte dos Estados Unidos de dar atenção à pauta que preocupa os Brics. Uma forma de lançar um candidato com condições de vencer." A declaração dos Brics também mencionou a importância da Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, e condenou a violência na Síria. Após o fim da cúpula, Dilma Rousseff se reuniu com o presidente Dmitri Medvedev, quando os dois líderes discutiram cooperação na área científica, tecnológica e de inovação, além de possíveis parcerias nas áreas de satélites e petróleo e gás, e a perspectiva de exportação de carne brasileira para o mercado russo. A presidente não quis comentar a posição da Rússia em relação ao Irã, mas enfatizou a posição brasileira. "A posição do Brasil é clara. O Brasil acha extremamente perigosas as medidas de bloqueio de compras do Irã", disse. "Compreendemos que outros países têm (relações comerciais com o Irã) e precisam dessas compras, mas achamos necessário que haja, de parte a parte, uma redução do conflito, para que se estabeleça o diálogo." Dilma Rousseff também defendeu o direito de os países usarem energia nuclear para fins pacíficos, assim como o Brasil faz. Na sexta-feira, a presidente brasileira tem encontros com líderes políticos e empresários indianos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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