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Busca pela casa própria exige mais cautela

Instabilidade política e cenário de alta da taxa de juros e restrição de crédito complicam decisão do consumidor

Por Hugo Passarelli
Atualização:
  Foto: AE

O consumidor em busca da casa própria enfrenta um cenário desafiador em 2016. Os juros dos financiamentos vêm subindo desde o ano passado, enquanto os bancos têm aumentado a restrição de crédito. As instabilidades políticas e seus reflexos na economia, com alta da inflação e desemprego, só engrossam esse caldo. Para especialistas, a palavra do momento é cautela antes de bater o martelo.

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O financiamento de um imóvel residencial exige cuidado porque é uma dívida de longo prazo e, provavelmente, a mais cara que um consumidor assume em toda a vida. Dados do Banco Central mostram que o prazo médio das concessões de crédito habitacional ficou ao redor de 30 anos nos últimos 12 meses.

O custo do crédito também encareceu. A taxa de juros regulada, que usa recursos da poupança e do FGTS e é mais barata, está em 9,5% ao ano pelos dados mais recentes (até o mês de fevereiro). Há um ano, estava em 8,8%. Nessa categoria, estão os imóveis com preço de até R$ 650 mil ou R$ 750 mil para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, além do Distrito Federal.

Já as chamadas taxas médias de mercado, aplicadas para os financiamentos de imóveis mais caros, passaram de 13% para 14,6% ao ano no mesmo intervalo.

Só a Caixa Econômica Federal – que detém cerca de 70% do mercado de financiamento habitacional – elevou os juros em até 1,32 ponto porcentual no mês passado. Foi a quarta elevação de taxas do banco estatal desde o ano passado.

Para Marcelo Prata, consultor e fundador do site Canal do Crédito, a taxa de juros nem chega a ser o fator com mais relevância nesse momento. “A principal questão é a capacidade ou previsibilidade para honrar esses pagamentos. Não é o momento para assumir um compromisso de longo prazo para quem não tem uma boa entrada ou poupança”, afirma.

Mesmo as recomendações mais clássicas e triviais, como dar o máximo possível de entrada e suavizar o peso dos juros, ganham nuances neste cenário conturbado.

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“Como a situação é muito instável, talvez seja interessante não colocar todas as reservas na entrada e ter um colchão de liquidez se o pior acontecer”, afirma Luiz Calado, economista e autor do livro Imóveis – seu guia para fazer da compra e venda um grande negócio.

Já os poupadores que possuem reservas financeiras para comprar à vista podem encontrar boas oportunidades de negócio porque incorporadoras e construtoras estão dando desconto em unidades que desejam tirar do estoque.

“A chance de o preço dos imóveis parar de cair no curto prazo é muito baixa”, afirma Calado. Para o consultor Prata, o momento é bom porque o preço é chave para fazer um bom negócio. “O segredo de quem investe nesse mercado é ganhar na hora da compra”, diz Prata.

Migração. Na avaliação de Prata, uma opção para aqueles que precisam hoje comprar um imóvel é tentar, no futuro, realizar a portabilidade de crédito dessa dívida em busca de uma condição mais atraente. “Uma diferença de cerca de meio ponto porcentual pode acabar já compensando a portabilidade”, diz.

Em maio de 2014, entraram em vigor as novas regras da portabilidade, que regulamentaram a prática e tornaram o processo mais claro e rápido.