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Busca pelo executivo ideal: uma tarefa difícil

Profissional com fluência em idiomas e com experiência internacional são cada vez mais disputados pelas empresas

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Por Fernando Scheller
Atualização:

SÃO PAULO - Em um mercado carente de líderes, encontrar o executivo ideal põe as consultorias especializadas em busca de profissionais em pé de guerra para identificar e fazer o casamento entre os candidatos de "alto potencial" e as melhores vagas.

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As empresas especializadas em recursos humanos para cargos de diretoria e vice-presidência passam os dias fazendo contatos para ter os melhores talentos mapeados para quando uma oportunidade em uma grande empresa aparecer.

Mas, afinal, o que as empresas buscam em um líder? Segundo diversas consultorias, é quase impossível encontrar um profissional que tenha todas as competências sonhadas pelas gigantes brasileiras e multinacionais.

Aqueles que têm as características procuradas são disputados a tapa pelos headhunters e podem se dar ao luxo de escolher onde trabalhar. Tanto que hoje um executivo brasileiro de primeira linha pode ganhar perto de US$ 1 milhão ao ano, mais do que o dobro do valor recebido por um europeu de mesma formação, segundo o HayGroup.

Formação sólida. A carreira de quem quer chegar nos cargos mais altos de uma grande corporação precisa ser pensada desde cedo, afirma Patricia Epperlein, sócia e presidente da consultoria Mariaca. O desafio, diz ela, começa pela formação sólida: "Para ser um executivo disputado, a pessoa tem de ser formada em uma faculdade de primeira linha, falar inglês, espanhol e quem sabe outra língua".

O segundo passo é buscar as experiências certas: "Ter passado por desafios na carreira, enfrentado crises, conta muito. Um período no exterior também ajuda, já que a maioria das empresas quer que os líderes estejam prontos para cargos globais".

Esse perfil de executivo é escasso no Brasil por motivos estruturais, na opinião de Renato Furtado, diretor executivo da consultoria Russell Reynolds. Ele lembra que, até o início da década de 90, o Brasil era um mercado muito fechado para o exterior, o que reduzia a possibilidade de um brasileiro ser acionado para uma posição internacional. "É algo que explica até porque profissionais muito experientes ainda têm dificuldades até com o domínio da língua estrangeira", afirma Furtado.

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Além disso, como o mercado local não era atraente, as multinacionais também não viam, salvo raras exceções, motivos para apostar em líderes brasileiros. Embora o Brasil tenha virado a "bola da vez" nos últimos cinco anos, a falta de profissionais para as principais posições executivas não será suprida em um curto período de tempo. Com isso, dizem os headhunters, as companhias estão se tornando mais maleáveis ao analisar o perfil dos candidatos. "Isso acontece porque, muitas vezes, o líder que a empresa considera ideal simplesmente não existe no mercado", diz Patricia, da Mariaca.

Experiência. Hoje, os departamentos de recursos humanos estão valorizando bem mais o executivo de cabelos brancos. Isso ocorre tanto pela necessidade de atrair um profissional com um perfil mais estável quanto pela dificuldade em achar as pessoas com a formação e experiência corretas. Se antes um alto executivo de 40 a 45 anos corria o risco de ser descartado do mercado de trabalho, hoje ele é o mais procurado para cargos de liderança.

De acordo com os recrutadores, mesmo o profissional na casa dos 50 anos – mas não mais velho do que 55 anos – está sendo olhado com mais carinho pelo mercado, diz Luís Giolo, diretor da consultoria Egon Zehnder no País. As empresas já entenderam que a maioria dos executivos de hoje não pensa em se aposentar antes dos 65 anos. "Temos uma pesquisa que mostra que, para cargos de vice-presidente, a idade média do brasileiro é de 49 anos. Na Europa, a média para o mesmo cargo é de 45 anos e na China, de 40."

Essa flexibilidade também está relacionada ao fato de que, na média, o candidato a executivo brasileiro é menos bem preparado do que os profissionais de grandes mercados, como os Estados Unidos, e muitas vezes está aquém também do nível de outros mercados latino-americanos. Segundo a Egon Zehnder, 40% dos profissionais americanos que concorrem a posições executivas têm pós-graduação, nível que chega a 25% no Chile e a 15% no México. No Brasil, essa proporção é de 10%.

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Preparação. É por essa razão, de acordo com Paulo Pontes, presidente da Michael Page no Brasil, que os profissionais a partir dos 30 anos devem começar a se preparar para, quando a hora chegar, estarem prontos para disputar as posições de liderança. "Acho que a partir dos 35, 36 anos, um profissional já pode estar na direção de um negócio. Isso dificilmente vai acontecer numa empresa que fature R$ 1 bilhão por ano, mas o profissional pode usar uma startup (empresa nascente) como trampolim", explica o consultor. "Assim, ele chega à casa dos 40 com melhores chances."

Na hora de construir uma história profissional, Pontes diz que vale a pena também controlar a ansiedade – hoje, os recrutadores afirmam que, não raramente, o profissional troca de empresa a cada oportunidade que surge. Essa característica do profissional mais jovem pode ser vista como um ponto negativo no futuro. "Sempre checamos as experiências acumuladas e queremos entender se a pessoa fechou o ciclo dentro da empresa. É difícil fazer isso em um período menor do que quatro ou cinco anos."

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