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Bye bye para quem fica

A sueca Relacom, que atendia a Telefônica e a TIM, fechou as portas sem pagar a rescisão dos funcionários

Por David Friedlander e Renato Cruz
Atualização:

Num momento em que todo mundo quer vir fazer negócios no Brasil, uma história mostra que o País não vive somente de sucesso. A multinacional sueca Relacom, uma das maiores prestadoras de serviços na área de telecomunicações, abandonou o Brasil no mês passado. A empresa desistiu do mercado brasileiro depois de anos de prejuízo, deixou mais de 2 mil funcionários na mão e tentou espetar o pagamento das rescisões trabalhistas na conta de dois grandes clientes, as operadoras de telefonia Telefônica e TIM.Em nenhum momento, a Relacom explicou o motivo de sua decisão extrema. Procurada pelo Estado, a matriz da empresa enviou explicações vagas, em que fala em "não ter conseguido alcançar a lucratividade por causa de pressão nos preços". Essa queixa é recorrente entre os fornecedores das operadoras, que se sentem amassados pela força de mercado dessas companhias.Com presença em 17 países, a Relacom estava no Brasil desde 2005. A empresa instalava e fazia manutenção de redes para grandes operadoras. Em abril, a empresa passou a ser controlada por um grupo de bancos. Foi no mesmo mês em que resolveu deixar o País.Se, por um lado, a Relacom dá a entender que não aguentou a pressão de seus clientes, de outro, as operadoras apontam que suas atuais prestadores de serviço conseguem trabalhar bem nas mesmas condições que a Relacom enfrentava, e que os problemas da empresa sueca podem ter origem na sua própria desorganização.Conta cara. Na semana passada, a Telefônica fechou um acordo com os ex-funcionários da Relacom em São Paulo. A empresa assumiu uma conta de cerca de R$ 16 milhões em verbas rescisórias, de aproximadamente 1,7 mil pessoas que trabalhavam para ela como terceirizados. A maioria desse contingente foi absorvida pela EGS, empresa de serviços da Ericsson, fabricante sueca de equipamentos que assumiu o contrato que era da Relacom. "Hoje a Relacom é credora da Telefônica", afirmou Francisco Gomes Junior, diretor jurídico da operadora espanhola. "Vamos atrás de cobrar essa dívida."Além das rescisões, que ainda estão sendo homologadas pelo sindicato, a Telefônica acabou herdando um passivo trabalhista que compreende "várias centenas" de ações. A derrota nesses processos pode custar mais de R$ 15 milhões."Entramos com uma ação no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), em que a Telefônica tinha responsabilidade solidária", disse José Carlos Guicho, vice-presidente do Sintetel, sindicato dos trabalhadores de telecomunicações em São Paulo. "A Telefônica fechou um acordo e assinou um documento de confissão de dívida."Pendências. Em outros Estados nos quais a Relacom atuava, a situação ainda não está encaminhada. O Sinttel, sindicato do Paraná, não conseguiu chegar a um acordo para que os ex-funcionários da prestadora de serviços recebam suas indenizações.Pedro Vitor Dias da Rosa, presidente do sindicato, afirmou que a TIM, principal cliente da Relacom no Estado, reteve pagamentos da sua contratada quando soube dos problemas em São Paulo, mas ainda não repassou esse dinheiro aos trabalhadores."A TIM precisa da documentação da Relacom, para saber quanto cada trabalhador deve receber. Mas a Relacom não entregou esses documentos", disse Rosa, que estava em São Paulo durante a semana, para acompanhar uma reunião entre a operadora de telefonia celular e um representante da Relacom.Em comunicado, a TIM indica que não pretende assumir a conta: "A operadora reforça que se trata de um contrato de prestação de serviços e que o cumprimento das obrigações trabalhistas é de responsabilidade da empresa contratada, neste caso, a Relacom".Para Ruy Bottesi, presidente da Associação de Engenheiros de Telecomunicações (AET), o caso reflete um problema sério na forma de contratação das operadoras, que espremem seus prestadores por preço. "É preciso sensibilizar o governo de que isso está errado, porque cai a qualidade do serviço." Rosa, do sindicato do Paraná, também alertou sobre o que chamou de "precarização" das contratações: "As operadoras trocam de empresa por serviços mais baratos, sem se preocupar com a qualidade."

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