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Caça às grifes acirra competição das holdings

Roupas casuais e novos estilistas estão na mira dos grupos de moda

Por Ana Paula Lacerda
Atualização:

Nos moldes do que ocorreu no exterior, as grifes brasileiras começaram a se unir sob o guarda-chuva de grandes holdings, com capital de fundos de investimentos. Passadas as semanas de moda de São Paulo e do Rio de Janeiro e com as grifes apresentando seus balanços anuais, os dois maiores, I?m e In Brands, aceleram a busca por empresas para crescer rapidamente. Ambos estão ao redor dos R$ 200 milhões a R$ 300 milhões em faturamento, mas a meta é, no médio e longo prazos, ultrapassar a casa do bilhão. A moda no País movimenta US$ 34,6 bilhões por ano. "Pretendemos chegar a 12 ou 13 marcas", diz Vicente Mello, presidente do grupo I?M (Identidade Moda, controlado pelo Fundo HLDC). Após comprar as marcas de Alexandre Herchcovitch, Fause Haten, Clube Chocolate e Cúmplice (além de Zoomp e Zapping), o I?M tem em vista pelo menos mais quatro nichos para aquisições: roupas esportivas, roupas casuais, acessórios e mais marcas de estilistas. Ele não confirma negociações com nenhuma grife, mas há rumores de que os próximos alvos sejam a Crawford e a Siberian, do Frupo Valdac. Já o In Brands anunciou, durante a São Paulo Fashion Week, a aquisição de 50% da grife de Isabela Capeto. A estilista continua à frente da criação, enquanto o grupo, que em dezembro havia comprado 50% da Ellus, cuida da administração. "Nossa estratégia não é adquirir 100% das marcas. Queremos formar parcerias para que cada uma mantenha seu estilo", explica Nelson Alvarenga, conselheiro da Ellus e da InBrands. No exterior, há décadas grupos como o PPR (Pinault-Printemps-Redoute), dono da Gucci e da Yves Saint Laurent, e a LVMH, proprietária de Louis Vuitton, Givenchy e Kenzo, concentram os grandes nomes da moda. "A tendência é de que isso ocorra aqui também", diz o diretor da consultoria BrandAnalytics, Eduardo Tomiya. "E, com o mercado aquecido, vamos ver uma corrida pelas marcas." O In Brands (controlado pelo fundo de private equity Pactual Capital Partners) pretende se focar na classe alta e média alta. "Vamos continuar com esse público porque ainda não temos experiência em massa", diz Nelson Alvarenga. Para ele, a competição ocorrerá mais nas lojas do que na procura por grifes. "Os estilistas vão estudar as propostas de cada grupo e ver com qual têm mais empatia. Acho que é isso que vai decidir quem fica com quem. Depois, cada um fará seu trabalho em criação, desfiles e vendas." Enzo Monzani, um dos sócios do HLDC, diz que a I?M não disputará grifes. "Não vamos comprar para vender, mas para ficar. E não vamos participar de leilão." Monzani diz gostar do desafio de gerir empresas. "Se alguém avalia bem e recomenda a compra de uma empresa, por que ele mesmo não vai lá e compra? Para lidar com a realidade dos negócios, é preciso investir e escolher as pessoas certas para gerenciar tudo." Apesar de não entender de moda, ele e seu sócio, Conrado Will, trouxeram pessoas de grifes e da SPFW para a holding. E o crescimento de outras holdings de moda não o assusta. "Esses caras são bons, será uma competição saudável." Apesar de serem os maiores, o I?M e o In Brands não são os únicos grupos criados por fundos a buscar as grifes brasileiras. No ano passado, a Artesia Gestão de Recursos adquiriu 51% da grife de roupas Le Lis Blanc e o fundo de investimento Tarpon All Equities comprou 25% da Arezzo S/A. E ainda há cerca de 17 mil empresas atuando em moda no País, que produzem 6 bilhões de peça ao ano. "Acho que o processo de aquisições começou até tarde demais no Brasil", diz a coordenadora de moda do Senac-SP, Marta Magri. "As grifes ficaram muito tempo sem investimentos, com administração familiar. Agora veremos um salto qualitativo." Ela acredita que muito estilistas vão optar por vender em parte ou totalmente suas marcas. "Os grupos terão facilidade para montar parques fabris e negociar matérias-primas, enquanto o estilista se preocupa com a criação. É bom para os dois lados." Tomiya, da BrandAnalytics, avalia que crescerá mais o grupo que montar o mix de marcas mais harmônico. "Precisam ter marcas fortes, com a cara do grupo, mas sem ser iguais, e trabalhá-las tanto no mercado interno quanto no externo, porque lá fora também estão de olho no Brasil."

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