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Cade barra, por unanimidade, venda da rede de postos Ale à dona da Ipiranga

Acordo de R$ 2,17 bilhões, que havia sido anunciado em junho do ano passado, faria a marca do Grupo Ultra se consolidar na vice-liderança do setor, atrás da BR Distribuidora, da Petrobrás; Cade viu ameaças à livre concorrência em 12 Estados

Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Karin Sato e Lorenna Rodrigues (Broadcast)
Atualização:

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reprovou nesta quarta-feira, 2, a compra da rede de postos de combustíveis Ale pela Ipiranga, do Grupo Ultra. Todos os conselheiros votaram contra a operação, anunciada em junho do ano passado, por R$ 2,17 bilhões. Se aprovada, a Ipiranga, vice-líder no setor, com participação de 20%, se distanciaria da Raízen (Shell), terceira colocada, com fatia de 18,8%. A BR Distribuidora, da Petrobrás, é a maior rede do País, com 31,2% de participação no mercado.

Um relator entendeu que o único remédio que garantiria a concorrência no mercado de combustíveis após a fusão entre Ipiranga e Ale seria a venda completa das operações da Ale em 12 estados, o que não interessou às empresas. Foto: Rafael Arbex/Estadão

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Foi a segunda operação relevante barrada pelo órgão desde que veio a público a pressão do empresário Joesley Batista, do grupo J&F, para que o órgão resolvesse uma questão com a Petrobrás para fornecimento de gás para usinas do grupo. Em junho, o Cade reprovou a compra da Estácio pela Kroton.

Desde 2012, quando a legislação passou a exigir análise prévia de casos de fusão pelo Cade, apenas cinco outras operações haviam sido vetadas pelo conselho, de acordo com levantamento do próprio órgão. O Cade atualmente também está mais firme em outras questões, como pedidos de revisão de termos de compromisso, que estão sendo seguidamente negados.

O relator João Paulo Resende votou contra por entender que o único “remédio” que garantiria a concorrência no mercado de combustíveis após a fusão seria a venda completa das operações da Ale em 12 Estados, o que não interessou às empresas.

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Os outros conselheiros apresentaram divergências pontuais, mas todos votaram por barrar a fusão. “Não é qualquer operação que deve ser aprovada pelo Cade. Além disso, os remédios além de precisarem ser ótimos, têm de ser eficazes ou com monitoramento fácil”, disse a conselheira Cristiane Alkmin.

Tentativa. Na segunda-feira, 31, as duas empresas apresentaram uma contraproposta de acordo, que o relator considerou insuficiente para sanar riscos concorrenciais. A advogada da Ipiranga, Bárbara Rosenberg, defendeu que a empresa propôs termos “fortes” ao conselho e que seria “o acordo mais radical e intervencionista da história do Cade”.

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No início do ano, a Superintendência-Geral do órgão antitruste já tinha sinalizado que a transação poderia ser barrada. Em fevereiro, o Cade havia informado que a operação poderia resultar em elevação de preços dos combustíveis por ampliar o poder da Ipiranga. Com isso, enviou a análise do caso para o plenário do Cade, instância que dá a palavra final.

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Em seu parecer, a Superintendência analisou que apenas quatro marcas são capazes de competir nacionalmente, entre elas a Ipiranga, Ale, BR Distribuidora e Raízen. “Desse modo, a operação resultaria na redução do número de marcas nacionais de quatro para três em um ambiente de mercado já concentrado.”

Em nota, o Ultra informou que, a despeito dos esforços da Ipiranga para esclarecer todos os questionamentos das autoridades, a união com a Ale agora será descartada. “A Ipiranga seguirá o curso habitual de seus negócios”, informou.

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O Ultra aguarda para os próximos meses decisão da Cade para a concluir a compra da Liquigás, divisão de gás de cozinha. Na quarta-feira, as ações ordinárias da Ultrapar fecharam com forte baixa, de 4,92%, a R$ 71,15.

Nova estratégia. Marcelo Alecrim, sócio do Ale, não esperava que o Cade fosse barrar a operação. Ao Estadão/Broadcast, ele disse que acreditava estar com o dinheiro da venda da Ale para a Ipiranga no bolso. Questionado se a empresa continua à venda, Alecrim foi categórico: “Venda, esquece. Estou aberto para o crescimento e recomeço. Não deu certo. Então, temos de olhar para frente. Estamos abertos a parcerias para crescermos organicamente ou para um futuro IPO (oferta pública inicial), se for interessante.”

Sobre as especulações de que a empresa estaria necessitando de recursos, Alecrim disse que o endividamento está controlado. A dívida líquida encerrou 2016 em R$ 450 milhões, queda de 40% em relação a 2015.

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