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Caixa ignora maior aversão às estatais e segue com IPO de holding de seguros

Banco público iniciou conversas com potenciais investidores para fazer oferta na Bolsa em abril; ingerência recente na Petrobrás e no Banco do Brasil azedou humor do mercado

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernanda Guimarães
Atualização:

A Caixa Econômica Federal ignorou a maior aversão do mercado às estatais e segue firme no processo de abertura de capital de sua holding de seguros. No entanto, o processo tem esbarrado em cautela de parte dos investidores em relação às empresas públicas, deflagrada após a troca dos presidentes do Banco do Brasil (BB) e da Petrobrás. A Caixa Seguridade acaba de dar o pontapé para as primeiras reuniões entre os potenciais investidores, a empresa e os bancos envolvidos na operação. Nesses encontros, que precedem o lançamento oficial da oferta, é que se mede o apetite pelas ações da empresa - e a qual preço. 

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Segundo um gestor, que falou na condição de anonimato, não faz sentido, neste momento, analisar a entrada na oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Caixa Seguridade porque a interferência do governo em Petrobrás, por exemplo, fez crescer o pessimismo sobre essas empresas, provocando, a reboque, desvalorização das ações das estatais negociadas na Bolsa. Um dos investidores disse que Caixa Seguridade seria comparável com a BB Seguridade, já listada e que cai cerca de 16% neste ano, algo que pressiona o preço de estreia da concorrente.

No entanto, a mensagem entre aqueles que estão trabalhando na oferta é que a BB Seguridade não funciona como uma boa base de comparação e que, para a oferta, a busca é de um preço mais alto do que sua concorrente. Isso porque, segundo uma fonte, a BB Seguridade não cresceu nos últimos anos, ao passo que a Caixa Seguridade entregou crescimento, lucro recorde e fechou as parcerias esperadas, mesmo em meio à pandemia. Fora isso, pelo fato de estar em um mercado muito competitivo, está distante de riscos de interferência política.

Uma fonte, próxima à transação, disse que as reuniões com o mercado estão ocorrendo em ritmo acelerado e que apenas na terça-feira, 23, foram oito realizadas. Está previsto no cronograma que o preço da ação no IPO será fechado entre os dias 26 e 27 de abril. 

Banco público queria algo entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões pela área de seguridade. Foto: Mercelo Camargo/Agência Brasil

No ano passado, quando fez sua primeira tentativa de se listar, a oferta era estimada em R$ 15 bilhões, o que levaria a Caixa Seguridade a estrear com um valor de mercado entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões. No entanto, neste momento, se cogita que a oferta fique em torno de R$ 6 bilhões, disse uma fonte. Uma das razões é que, ao invés de vender 30% do capital, a venda seja de 15% da empresa no IPO. 

Depois disso, para se adequar ao regulamento do Novo Mercado, segmento de listagem da B3, onde há mais exigências de governança corporativa, a ideia é realizar uma oferta subsequente (follow-on), para que a empresa, a partir daí, tenha a ações em circulação no mercado conforme as regras. A B3 dá um prazo de até dois anos para isso.

Foco na pessoa física 

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Um dos trunfos da Caixa para viabilizar a oferta é sua intenção de vender 50% das ações do IPO para pessoas físicas, algo que seria inédito no mercado brasileiro, apurou o Estadão. A ideia seria se aproveitar de sua base de clientes e sua capilaridade de distribuição das ações. 

No entanto, mesmo que a Caixa tenha convicção de que a demanda será grande entre as pessoas físicas, dada a proximidade do banco público à população, não é esse grupo que participa da formação de preço em um IPO. Assim, com pressão de preço por parte dos investidores institucionais, o valor do IPO, para incluir o risco-retorno identificado por eles, pode ficar abaixo do preço colocado como mínimo para a realização da venda de uma fatia da estatal, que deve ocorrer sob os olhares atentos do Tribunal de Contas da União (TCU).

A aposta no suporte das pessoas físicas no IPO se sustenta também no grande crescimento desses investidores na Bolsa brasileira, superando os 3 milhões de CPFs, mais do que dobrando em um ano, o que ocorreu na esteira de juros baixos. 

No entanto, uma questão técnica não permite que uma oferta seja viabilizada apenas com a demanda vinda desse público. Para um IPO sair do papel, ele precisa de ter a demanda integral vindo dos investidores institucionais, que são basicamente os fundos de investimento. Isso significa que, no caso de uma oferta de R$ 10 bilhões, os pedidos de reservas dos fundos, incluindo os estrangeiros, devem ao menos chegar a esse valor. É essa conta que viabiliza uma oferta inicial. 

Do lado das pessoas físicas, não existe um limite máximo para que esse público compre ações em uma oferta, mas existe uma barreira simbólica em torno dos 20%. Mais do que isso, investidores institucionais passam a cobrar um desconto no preço, por causa da preocupação de que com mais investidores do varejo em um IPO a volatilidade seja maior.

Procurada, a Caixa não comentou.

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